Título: PM reprime protesto em SP com bala de borracha e bomba de gás: 8 ferid
Autor: Aggege, Soraya
Fonte: O Globo, 09/03/2007, O País, p. 4

Mulher de 45 anos foi hospitalizada e precisará de cirurgia.

Manifestação na Avenida Paulista reuniu dez mil pessoas, segundo a polícia.

SÃO PAULO. A manifestação contra a presença no Brasil do presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, na Avenida Paulista, ontem à tarde, deixou pelo menos oito pessoas feridas, a maioria por bombas e balas de borracha da Polícia Militar. A analista financeira Márcia Baraldi, de 45 anos, foi internada no Hospital Santa Catarina e terá que passar por cirurgia. O presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), Gustavo Petta, foi atingido por estilhaços de bombas de gás. Dois jornalistas sofreram ferimentos leves e uma policial militar foi atingida por uma pedrada na cabeça. Uma estudante e seu namorado foram atingidos por balas de borracha nas costas.

- A polícia veio para cima da multidão e eu fiquei com dois buracões na perna - disse a analista financeira.

A manifestação começou às 15h e reuniu cerca de dez mil pessoas, segundo a PM, ou 20 mil, de acordo com os organizadores. Durante a passeata, os manifestantes gritavam "Fora Bush do Iraque e Lula do Haiti". Bonecos imitavam Bush e foi queimada uma bandeira dos EUA. Mulheres da Via Campesina e do MST levaram pedaços de cana-de-açúcar e reclamavam que o acordo do etanol criará um "deserto verde" no Brasil. Cartazes e faixas traziam dizeres como "Atenção: terrorista em São Paulo", "Fora ianque assassino", "Lula: capacho do imperialismo" e "Fora, Bush!".

A passeata ocupava as quatro pistas num dos sentidos da Avenida Paulista. Por volta das 17h20m, os manifestantes tentaram ocupar as pistas no sentido contrário. Os policiais fizeram uma barreira de contenção. Alguns jovens, com máscaras e símbolos anarquistas, começaram a provocar e jogar objetos nos policiais.

Os policiais partiram para o ataque, mirando todos os manifestantes que estavam nas imediações, inclusive dentro do vão livre do Masp. Foram lançadas pelo menos dez bombas de gás contra a multidão, que se espalhou pelas ruas. Bares e lojas fecharam as portas. Os policiais usaram também cassetetes, spray de pimenta e armas com balas de borracha.

Pelo menos cem policiais, inclusive da Tropa de Choque, participaram da repressão ao protesto. Alguns jovens que atiravam objetos nos policiais e os provocavam receberam jato de spray pimenta.

- Os garotos eram punks. Eles invadiram a via contrária e não queriam sair - disse o capitão George Henrique Marques Alves, comandante da 1ª Companhia do 11º Batalhão da PM.

Manifestações continuam hoje na capital

O presidente da UNE foi auxiliado por parlamentares que pretendiam conversar com o comando da PM, para pedir a retirada da Tropa de Choque.

- Eu fui agredido pelos policiais no momento em que tentava acalmar a situação. Pode ter havido provocação, mas a PM se mostrou totalmente despreparada para atuar em um protesto - afirmou Gustavo Petta.

Hoje de manhã, UNE, CUT, MST, Marcha de Mulheres e outros movimentos se reunirão no Monumento das Bandeiras para formar o "comando de caça a Bush". Entre os alvos estão as lanchonetes McDonald"s. Ontem, a loja da Paulista fechou suas portas. A PM patrulhou as lojas da rede e as agências de bancos americanos, como o Citibank.

- Ele não terá sossego enquanto estiver no Brasil. De alguma forma verá que não é bem-vindo - disse o dirigente da CUT Antonio Carlos Spis.

Além de Márcia, Petta e a policial, identificada apenas como Camila, foram atingidos por estilhaços de bombas o estudante Pedro Pinheiro, de 20 anos, e o jornalista Luciano Máximo, que fazia a cobertura do protesto. O fotógrafo Caetano Barreira, de 25 anos, teve o rosto ferido por alguns manifestantes, que atiravam suportes de bandeiras e pedras contra os policiais.

A estudante Marília Gabriela Belo Garcia e seu namorado, Wilson Borges Filho, foram atingidos por balas e bombas. Eles foram levados ao Hospital das Clínicas. Outros dois policiais teriam sido feridos. Quatro punks foram detidos.