Título: Aeroporto é fechado para Bush descer
Autor: Freire, Flávio e D'Ercole, Ronaldo
Fonte: O Globo, 09/03/2007, O País, p. 8

Chegada foi monitorada por helicóptero do Exército, atiradores de elite e agentes de serviço secreto.

Pousos e decolagens foram proibidos em Cumbica durante 20 minutos, até o desembarque do americano, às 20h04.

SÃO PAULO. Cercado de um forte esquema de segurança, o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, desembarcou às 20h04m de ontem no Aeroporto Internacional de São Paulo para uma visita que deve durar menos de 24 horas. Dez minutos antes de o Air Force One aterrissar, todos os pousos e decolagens foram suspensos. Enquanto Bush e a primeira-dama, Laura, desciam as escadas da aeronave, um helicóptero do Exército brasileiro sobrevoava a pista, atiradores de elite ocupavam duas torres improvisadas e um batalhão de policiais, agentes do serviço secreto e do Exército brasileiro monitoravam o local.

Antes de deixar o avião, Bush acenou para imprensa, cumprimentou rapidamente autoridades e, em pouco mais de dois minutos, entrou na limusine presidencial que ostentava as bandeiras americana e brasileira, e seguiu numa comitiva de mais de 40 carros rumo ao Hotel Hilton, onde hoje se encontra reservadamente com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Recepcionaram o presidente americano no desembarque no Brasil o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (PFL), o cônsul-geral americano, Christopher Mcmullen, o embaixador Jediel Oliveira, representante do Itamaraty em São Paulo, e o secretário municipal de Relações Internacionais, Alfredo Cutait. Com o presidente e sua mulher desembarcaram também a secretária de Estado americana, Condoleezza Rice - que desembarcou logo depois do casal e seguiu para o hotel na mesma limusine do presidente -, o embaixador americano no Brasil, Clifford Sobel, e a secretária de Comércio dos EUA, Susan Schwab.

Para o desembarque de Bush, a Infraero isolou uma área de 4 mil metros quadrados, chamada "remota central", ao lado do terminal 2 de Cumbica e usada como estacionamento para aeronaves. O superintendente da Infraero na região Sudeste, Edgard Brandão Jr., confirmou que o espaço aéreo ficou fechado pelo menos 20 minutos.

Infraero mobiliza 200 veículos

Fechar o espaço aéreo foi definido entre a Aeronáutica e o governo americano, segundo o representante da Infraero.

- A única informação que recebemos é que dez minutos antes e dez minutos depois da aterrissagem teria um procedimento de minimizar qualquer operação, a menos que tivesse alguma necessidade mais urgente - disse Brandão Jr.

Desde o último dia 4, até ontem, sete aviões do governo americano chegaram ao Brasil. Segundo a Infraero, cerca de 600 pessoas trabalharam no transporte de pessoas, equipamentos e materiais da comitiva presidencial americana em Cumbica, mobilizando mais de 200 veículos do órgão que administra os aeroportos.

Jornalistas são revistados

A preocupação com a segurança de Bush se estendeu aos jornalistas brasileiros que acompanharam o desembarque. Foram três horas entre orientações, credenciamento e o deslocamento que culminou, já na pista do aeroporto, numa minuciosa revista. Fotógrafos e cinegrafistas tiveram que depositar seus equipamentos no chão, enfileirados, para que cães farejadores do serviço secreto americano e do Exército brasileiro fizessem uma inspeção. Agentes americanos também examinaram bolsas e mochilas e pediram para que todos os equipamentos fossem ligados antes da vistoria. Em inglês, pediam, inclusive, que uma foto fosse tirada para mostrar que o equipamento realmente se tratava de uma máquina fotográfica.

Antes disso, todos os repórteres tiveram que deixar bolsas de mão, celulares e notebooks numa sala da Infraero, que alegava se tratar de uma norma de segurança do aeroporto. Na pista, no entanto, agentes americanos usavam celulares livremente sem nenhuma interferência da Infraero. Os jornalistas foram colocados em cima de uma carreta de caminhão, a cerca de 100 metros de distância do local onde parou o Air Force One para o desembarque de Bush. Dois veículos equipados com holofotes foram deslocados pouco antes de pouso para facilitar o registro do desembarque.

O horário de aterrissagem do avião de Bush só foi confirmado pelo consulado americano cinco minutos antes do pouso. À saída, com exceção de Brandão Jr., nenhuma autoridade que recepcionou Bush na pista falou com a imprensa.

A comitiva de Bush chegou ao Hotel Hilton por volta das 21h. Cerca de 200 pessoas aglomeradas na esquina da avenida Luiz Carlos Berrini com a rua Arizona (Zona Sul da capital) aplaudiram por volta das 17h15 de ontem a passagem de um comboio de 31 veículos, liderado por duas limusines Lincoln e batedores da Polícia Militar, que iria buscar Bush no aeroporto. Os aplausos não significavam simpatia pelo americano, mas satisfação e alívio porque a passagem do comboio era o sinal de que o trânsito seria liberado e a pequena multidão poderia embarcar nos ônibus e, finalmente, ir para casa.