Título: Acordo de parceria do etanol será fechado sem prazos
Autor: Oliveira, Eliane
Fonte: O Globo, 09/03/2007, O País, p. 10

Bush irá para o Uruguai sem prometer nada a Lula quanto à eliminação da sobretaxa sobre o produto brasileiro no mercado americano

Documento, genérico, permitirá rompimento unilateral a qualquer momento; parceria vai incluir transferência mútua de tecnologias e padronização técnica

SÃO PAULO. Um memorando de entendimentos estabelecendo a parceria entre Brasil e Estados Unidos em torno do etanol deverá ser o único ato a ser assinado hoje pelos presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e George W. Bush. Trata-se de um documento genérico, sem prazos estabelecidos e que permitirá o rompimento unilateral do acordo a qualquer momento. Segundo técnicos de pelo menos três ministérios envolvidos no tema, Bush e Lula designarão representantes de seus países, que ficarão encarregados de levar adiante essa associação.

A parceria bilateral incluirá a transferência mútua de novas tecnologias, a padronização técnica do etanol e a criação de usinas de biocombustíveis em outros países. Até ontem à noite, a versão que circulava pela Esplanada dos Ministérios citava nominalmente a África, a América Central e o Caribe, sem fazer menção a alguma nação específica, como o Haiti.

Embora a barreira protecionista imposta pelos americanos ao ingresso do álcool brasileiro nos EUA seja considerada um empecilho a essa relação pelo Brasil, Bush seguirá para o Uruguai sem prometer nada a Lula quanto à eliminação da sobretaxa de 54 centavos de dólar por galão de etanol que entra no mercado americano. As autoridades brasileiras esperam, pelo menos, uma sinalização do presidente dos EUA a esse respeito. Uma saída ideal seria a redução gradativa da tarifa.

"Nossa produção deve duplicar em cinco a seis anos"

Na última quarta-feira, representantes do setor sucroalcooleiro estiveram com a chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. Uma das preocupações dos empresários é com a necessidade de um planejamento de longo prazo, para que o Brasil seja capaz de manter a competitividade, num cenário que será marcado pelo aumento da demanda internacional.

- Nossa produção, de 18 bilhões de litros, deve duplicar dentro de cinco a seis anos. Por isso, precisamos de um planejamento mais eficaz - explicou o diretor-técnico da União da Agroindústria Canavieira de São Paulo (Unica), Antônio de Pádua Rodrigues.

Após o cumprimento da agenda, que começa com uma visita à Transpetro, em Guarulhos, e termina com um almoço num hotel de São Paulo, Lula e Bush farão uma declaração conjunta à imprensa. Espera-se que, além do etanol, os dois presidentes destaquem a importância da Rodada de Doha, na Organização Mundial do Comércio (OMC).

O presidente brasileiro, particularmente, gostaria de ouvir de Bush algo mais positivo do que o americano vem dizendo a respeito da importância de se retomarem as negociações multilaterais, que estão paralisadas há cerca de um ano.

Para os principais países associados à OMC, a bola da vez está com os EUA. Brasileiros, europeus, indianos e outros atores que negociam a Rodada de Doha querem que os americanos concordem em reduzir mais os subsídios domésticos concedidos aos produtores do país, que somente em 2005 somaram cerca de US$24 bilhões. O problema é que a agricultura americana é fortemente protegida, e um movimento de Bush pela liberalização do mercado americano às exportações de países em desenvolvimento poderia desgastar ainda mais a imagem dos republicanos nos EUA. Outro problema é que, no próximo mês de junho, deixará de vigorar a autorização dada pelo Congresso dos Estados Unidos para que o Executivo firme acordos na OMC.