Título: Bush: Questão de segurança nacional
Autor:
Fonte: O Globo, 10/03/2007, O País, p. 3

O presidente George W. Bush disse, na visita a um terminal da Transpetro (subsidiária da Petrobras), que o esforço para o desenvolvimento de combustíveis alternativos ao petróleo é uma "questão de segurança nacional" para seu país. Sem citar nomes, Bush disse que não pode ficar dependente de decisões "de outra pessoa" e que os Estados Unidos e o Brasil - que detêm 72% da produção mundial de etanol - podem liderar o processo de uso de biocombustíveis.

Parte dos quase 200 empresários e autoridades que acompanharam o evento, primeiro compromisso oficial de Bush no país, interpretou o discurso do presidente americano como novo recado contra a influência do presidente da Venezuela, Hugo Chávez - que hoje é responsável pelo fornecimento de 14% do petróleo consumido nos Estados Unidos (1,5 milhão de barris por dia).

- Se nós dependemos de petróleo, que vem de fora, temos uma questão de segurança nacional. Nossa dependência do combustível de outra pessoa significa que estamos dependentes de suas decisões. Queremos diversificar, sair do petróleo - discursou Bush, ao lado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. (leia os principais trechos do pronunciamento na página 12)

Na seqüência da sua fala, que durou menos de sete minutos, o presidente americano completou:

- Essa dependência do petróleo também cria um problema econômico não apenas para os EUA, mas para todos que importam petróleo. E, no mundo globalizado, se a demanda por petróleo na Índia, na China crescer, aumentam os preços da gasolina em nossos países.

Para Bush, baseado na experiência bem-sucedida do Brasil, a população americana não deveria "ter medo" de comprar um carro a álcool. Afirmou ainda que tem o desejo de colaborar com o presidente Lula para que a América Central também não dependa tanto do petróleo.

- É importante que a vizinhança seja próspera - afirmou Bush, que acrescentou: - Quando usamos o etanol como combustível, ficamos dependentes não dos ricos, mas do produtor que trabalha na terra.

Bush repetiu as metas anunciadas em seu discurso anual ao Congresso, em janeiro. A principal é a redução de 20% no consumo de gasolina nos EUA nos próximos dez anos. Se essa substituição for implantada, significará 132 bilhões de litros de álcool combustível extras. Hoje, esse consumo no mercado americano é de 20 bilhões.

Ele disse que a produção de etanol a partir da cana-de-açúcar "dá ao Brasil uma grande vantagem mundial" e que "de longe" essa é a matéria-prima mais eficiente para o desenvolvimento do álcool combustível. Os produtores americanos utilizam o milho como produto-base, sem a mesma produtividade dos brasileiros. Eles gastam até US$0,45 para produzir um litro, contra US$0,28 no Brasil:

- Acredito que o Brasil e os EUA têm capacidade de liderar o caminho em direção a dias melhores.

Bem-humorado, Bush começou o discurso falando "bom dia" em português. Ao fim, disse que seria breve porque estava com fome e agradeceu a Lula por convidá-lo para um almoço com comida brasileira.