Título: Bush deixa o Brasil sem ceder sobre tarifa
Autor: Galhardo, Ricardo e Novo, Aguinaldo
Fonte: O Globo, 10/03/2007, O País, p. 12

No almoço com Lula, presidente dos EUA diz que Congresso americano não admite fim da medida, que vai até 2009

SÃO PAULO. As pressões políticas internas e a proximidade das eleições nos Estados Unidos jogaram por terra a esperança brasileira de que os americanos derrubassem a sobretaxa imposta ao etanol nacional. O presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, disse, durante o almoço com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que vem sofrendo pressões políticas para manter a sobretaxa.

Na coletiva após o almoço, Bush pôs um ponto final na discussão a respeito da pesada sobretaxa, de 54 centavos de dólar por galão. Apesar dos apelos de Lula para que os EUA acabem com a tarifa, facilitando a parceria entre os dois países na produção do combustível, Bush disse que a medida continuará a vigorar até 2009:

- A tarifa permanecerá até 2009 e, depois disso, o Congresso dará um jeito.

Dois dias antes da chegada de Bush a São Paulo, Lula classificou os subsídios agrícolas americanos como nefastos.

Para que a sobretaxa fosse derrubada, seria preciso que o Congresso dos EUA aprovasse uma alteração na lei tributária. No almoço com Lula, Bush, cobrado pelo ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, disse que a conjuntura política impede a mudança.

- Esse assunto foi colocado pelo Furlan e por mim no almoço, e o presidente Bush disse que não tem condição de enfrentar isso porque existe uma força política muito grande dentro do Congresso americano a favor da sobretaxação. Ele não abriu perspectiva sobre isso, exceto quando a atual tributação terminar seu prazo, que é daqui a dois anos - disse o governador de São Paulo, José Serra, um dos convidados do almoço.

Segundo o embaixador brasileiro em Washington, Antonio Patriota, a Casa Branca já deu sinais de ser contra a taxa:

- O Executivo (dos EUA) não é partidário dessa taxa.

O presidente da Petrobras, Sérgio Gabrielli, lembrou que, na vastidão do mercado americano de combustíveis, haverá espaço para o etanol brasileiro:

- O mercado de gasolina dos EUA é 21 vezes maior do que o brasileiro. A introdução do etanol vai impactar o mundo todo e reverter o eixo Norte-Sul.

Entidade cobra detalhes sobre parcerias para pesquisa

O memorando assinado pelos dois presidentes para ampliar a produção do etanol foi bem recebido pela União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), pela visibilidade internacional dada ao combustível. Mas a Unica, que representa os produtores do Centro-Sul, cobra mais detalhes sobre as parcerias para pesquisa e desenvolvimento.

- Falta detalhar as propostas anunciadas pelos dois presidentes para sabermos quem vai participar desse trabalho, quais as universidades, institutos de pesquisa e empresas - disse o secretário-geral da entidade, Fernando Moreira Ribeiro.

O acordo também foi elogiado pelo presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Rogelio Goldfarb. Para ele, com tecnologia mais eficiente do que a americana, o Brasil "saiu na frente desse jogo". Mas ele advertiu que o país precisa aumentar os investimentos.

(*) Enviadas especiais