Título: LULA: 'Todos podem sair ganhando'
Autor: Barbosa, Adauri Antunes e Rodrigues, Lins
Fonte: O Globo, 10/03/2007, O País, p. 13

Esta segunda visita do presidente Bush ao Brasil em pouco mais de um ano é mais um passo no aprofundamento do diálogo entre nossos governos e nossos países. Um diálogo que começou antes mesmo de eu tomar posse, quando o presidente Bush me recebeu, em dezembro de 2002, na Casa Branca. Nos freqüentes encontros e telefonemas que mantivemos desde então, nossas relações foram sempre pautadas pela extrema franqueza, respeito mútuo e espírito construtivo. (...)O Brasil se orgulha de ter contribuído para a decisão de governo dos Estados Unidos de aumentar a participação dos biocombustíveis na matriz energética. Recordo o entusiasmo com que o presidente Bush conheceu de perto, no encontro que mantivemos em Brasília em 2005, a história de sucesso brasileira em matéria de biodiesel, de biocombustíveis. Temos no Brasil um programa extremamente exitoso, considerado modelar, fruto de um investimento de mais de 30 anos em pesquisas e em desenvolvimento. Um programa que associa o respeito ao meio ambiente à preservação e ampliação da segurança alimentar de nossa sociedade, um programa que tem forte impacto social, por sua capacidade de gerar empregos, fortalecer a agricultura familiar e fazer a distribuição de renda. Esse é um campo onde nossos dois países podem cooperar. (...) Precisamos eliminar os desequilíbrios que ainda constrangem o comércio mundial e que agravam uma das assimetrias que marcam o mundo de hoje. Transmiti ao presidente o meu sentimento de que estamos mais próximos do que nunca de uma conclusão bem-sucedida das negociações de Doha. Todos podem sair ganhando com um acordo ambicioso e equilibrado, sobretudo os países mais pobres. (...)Meu caro presidente, sua visita ao Brasil coincide com um momento excepcional que vive o nosso continente, particularmente a América do Sul. As ditaduras que infelicitaram a região por duas décadas são uma dolorosa recordação do passado. Todos os governos sul-americanos são resultados de eleições livres, com ampla participação popular. Todos estão empenhados em projetos de crescimento, com distribuição de renda, capazes de pôr fim à terrível desigualdade social que herdamos, agravada por aventuras macroeconômicas passadas. Todos estamos finalmente empenhados em um projeto de integração sul-americana. (...) Nossa integração se dá entre nações independentes, onde a diversidade e a tolerância também são uma força. Respeitamos as opções políticas e econômicas de cada país e isso nos tem permitido avanços notáveis, expandindo o comércio, realizando obras de infra-estrutura, fortalecendo nossa segurança energética, o bem-estar de nossa sociedade e aproximando povos capazes de trilhar seu próprio caminho. (...) A redemocratização e a reconquista das liberdades políticas não foram suficientes para impedir que milhões de brasileiros e latino-americanos ainda vivam em estado de extrema pobreza. Por isso, todos os governos da região têm implementado programas para desenvolver nossos países e combater a exclusão social. Nós, os presidentes, devemos pensar na vida dessa gente mais sofrida que, além de querer democracia para eleger os seus governantes, quer ter o direito à saúde, à educação, à moradia, à segurança e quer ter o direito de conquistar a sua cidadania. (...) Quero terminar dizendo a Vossa Excelência que o Brasil tem consciência do significado da integração da América do Sul, o Brasil tem consciência do significado da integração da América Latina, da mesma forma que o Brasil tem consciência do significado de uma aproximação do Brasil com a África, e também dos Estados Unidos com a África. Penso que Estados Unidos e Brasil poderiam, juntos, construir alguns projetos que pudessem significar, para esses países mais pobres, a certeza das pessoas não verem nos países mais ricos apenas os países exploradores, mas que os vissem como os países mais ricos do planeta. Por isso, a Rodada de Doha é importante, por isso o acordo da OMC é importante, e eu vejo aqui a sua ministra negociadora, vejo aqui o meu ministro negociador, e eu penso que deveríamos dar a eles uma única ordem: façam o acordo o mais rápido possível, porque se Estados Unidos e Brasil se entenderem, fica mais fácil nós convencermos aqueles que ainda não estão participando do esforço."