Título: Comitiva de Bush cai no samba ao fim da visita
Autor: Barbosa, Adauri Antunes e Rodrigues, Lins
Fonte: O Globo, 10/03/2007, O País, p. 13

Presidente toca ganzá, primeira-dama dança forró e Condoleezza ensaia passos na Associação Meninos do Morumbi

Adauri Antunes Barbosa, Lino Rodrigues e Flávio Freire

SÃO PAULO. O presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, dançou ao som de "Brasileirinho", o samba-choro de Waldir Azevedo, na visita que fez ontem à tarde à Associação Meninos do Morumbi. Bush tocou ganzá, um chocalho brasileiro. A primeira-dama, Laura Bush, dançou forró, e a secretária de Estado, Condoleezza Rice, ensaiou alguns passos de samba. Antes dos momentos de descontração, falando a convidados, o presidente americano disse acreditar em uma sociedade com base na compaixão:

- Acredito na construção de uma sociedade baseada na compaixão e creio que você pode mudar a sociedade (tocando) um coração de cada vez.

O presidente e a mulher chegaram à ONG com Condoleezza Rice e amparados por um forte esquema de segurança comandado pelo Exército brasileiro. Todas as ruas em volta foram fechadas, inclusive para moradores a pé. Os americanos começaram a visita por uma das salas de informática, onde foram recebidos por 20 jovens. Os meninos foram todos cumprimentados por Bush e Laura, que conversaram com eles.

Na saída, vaias e alguns aplausos

Segundo João Laurentino, coordenador de programa e projetos da ONG, os jovens se surpreenderam com a simpatia dos americanos, já que não havia expectativa de aproximação.

Enquanto Bush e comitiva faziam a visita, muitos moradores das proximidades da Rua José Jannarelli foram impedidos de ir para suas casas.

Laura chora ao visitar ONG

Soldados, a maioria da Força de Apoio Rápido, que receberam apoio das Polícias Federal, Militar e Civil, cercaram e isolaram todas as ruas das imediações. Muitos moradores reclamaram que não foram avisados do isolamento.

Não houve protesto organizado, como havia ameaçado a UNE. Quando deixava a Meninos do Morumbi, o presidente americano recebeu vaias e alguns aplausos ao passar pela Rua José Jannarelli. Da limusine, Bush acenou para os moradores.

De manhã, Laura Bush se emocionou e chegou a chorar ao ouvir depoimentos de alunos da Alfabetização Solidária (AlfaSol), ONG que ensina jovens e adultos a ler e escrever. Laura se reuniu com representantes de empresas que apóiam a ONG.

- Ela ouviu depoimentos de pessoas simples e acabou se emocionando com as histórias de vida dos alunos - contou a superintendente executiva Regina Célia Esteves de Siqueira.

Laura Bush chegou à AlfaSol por volta das 9h50m, cercada por um forte esquema de segurança. Ela vestia um terninho cinza com pespontos vermelhos, brincos e colar também vermelhos. A limusine entrou pela garagem do prédio na Alameda Itu. Laura foi levada ao 4º andar, onde conversou com dez alunos e dois alfabetizadores numa sala que reproduzia uma aula do programa de alfabetização da instituição.

Simpática e demonstrando interesse em saber detalhes do programa, elogiou o trabalho dos educadores brasileiros e disse, ao sair:

- Vocês são os melhores.

A primeira-dama já conhecia a entidade. Ano passado, Regina foi convidada pela Casa Branca para participar de uma conferência sobre alfabetização. Agora, Regina espera que o governo americano financie a experiência brasileira em outros países.

Na rua, Laura voltou a mostrar simpatia ao acenar para curiosos, de dentro da limusine. Ela seguiu para a Vila Madalena, bairro onde fica a ONG Associação Cidade Escola Aprendiz. A primeira-dama chegou à entidade às 11h10m e ficou por lá 45 minutos. Laura foi recepcionada ao som de "Brasil pandeiro", cuja letra diz que "O Tio Sam está querendo conhecer nossa batucada". Conversou com crianças, amparada por um tradutor.

A preocupação com a segurança levou à prisão de um rapaz. Ele estava junto a pessoas que aguardavam a chegada da primeira-dama quando foi abordado pela polícia. Sem camisa e descalço, o rapaz foi retirado do local por quase dez PMs, por não portar documentos. Na mochila do rapaz, a polícia só encontrou sacos plásticos e canetas.

www.oglobo.com.br/mundo