Título: PMDB, em convenção hoje, reconduz Michel Temer à presidência do partido
Autor: Franco, Ilimar e Vasconcelos, Adriana
Fonte: O Globo, 11/03/2007, O País, p. 4
Renan não conseguiu esvaziar candidatura, que tem o apoio do Planalto
Ilimar Franco e Adriana Vasconcelos
BRASÍLIA. Fracassou a tentativa do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), de esvaziar a convenção do PMDB e de impedir que integrantes de seu grupo entrassem na chapa pela reeleição do deputado Michel Temer (SP) para a presidência do partido. Num encontro que promete ser tranqüilo e sem disputas, o PMDB realiza hoje sua convenção nacional para renovar sua direção e reconduzir Temer por mais dois anos na presidência. Candidato único e com apoio do Planalto, Temer encarna agora os neogovernistas do PMDB.
Os governadores, que, em sua maioria, defendiam a renovação e apoiaram a candidatura do ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) Nelson Jobim, inviabilizaram o boicote proposto por Renan e trataram de fortalecer a chapa de Temer. Sérgio Cabral (RJ), Luiz Henrique (SC), Eduardo Braga (AM), Paulo Hartung (ES), Marcelo Miranda (TO) e André Puccinelli (MS) entraram na chapa para o diretório nacional e Roberto Requião (PR) indicou seu vice, Orlando Pessuti, para representá-lo. A chapa, que tinha apenas um senador, agora tem seis, além de um representante do senador Pedro Simon (RS).
- Os governadores vieram para a chapa. Não há mais dúvida de que esta é a chapa da unidade. O partido sai unificado porque estamos todos juntos no apoio ao governo Lula - disse Temer.
Nova direção quer Jobim na Fundação Ulysses Guimarães
A nova direção do PMDB pretende trazer Jobim, que retirou sua candidatura terça-feira, para o comando do partido. Ao renunciar, Jobim alegou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deixou clara sua preferência pela reeleição de Temer, quando o recebeu no Planalto, um dia depois de ter convidado o deputado Geddel Vieira Lima (PMDB-BA), do grupo de Temer, para o Ministério.
Os aliados de Temer fizeram sondagens com o objetivo de convencer Jobim a presidir a Fundação Ulysses Guimarães, que terá como tarefa construir uma proposta programática de governo para o partido.
Na nova direção nacional do PMDB, que será eleita hoje, o ex-governador do Rio Anthony Garotinho ficou com dez representantes. Os articuladores da chapa trabalham para excluí-lo da executiva, que será eleita pelos 119 peemedebistas do diretório nacional. Participam ainda da chapa de Temer o ex-deputado José Borba, um dos envolvidos no escândalo do mensalão, e o deputado João Magalhães (MG), investigado no escândalo dos sanguessugas.
Derrotado em duas frentes - nas tentativas de eleger Jobim presidente do partido e, depois, de boicotar a convenção para não garantir quórum -, Renan estava menos raivoso na sexta-feira. Na quinta-feira à noite, acompanhado pelo senador José Sarney (PMDB-AP), Renan foi recebido por Lula no Planalto. O presidente aproveitou um almoço no Itamaraty, naquele dia, para convidar pessoalmente Renan para a conversa reservada.
Mesmo irritado, o presidente do Senado não teve como recusar a proposta, como fizera na véspera, quando o governador do Rio, Sérgio Cabral, foi incumbido por Lula de lhe transmitir o convite. Mas não participou da cerimônia de posse dos novos líderes governistas no Congresso, sendo que dois deles eram senadores do PMDB - Roseana Sarney e Romero Jucá.
Renan evitou, na sexta-feira, comentar os detalhes da conversa que teve com Lula. Mas quem falou com o senador percebeu a mudança de tom no discurso. Renan admitiu estar disposto a preservar a relação pessoal com o presidente, mas insistiu na tese de que Temer seria o candidato da divisão, e não da unidade do partido. Ele minimizou a adesão de governadores e senadores à chapa de Temer, argumentando que cada um deve agir de acordo com sua consciência.
Mão Santa faz apelo por quórum
O senador Mão Santa (PMDB-PI) chegou a fazer um apelo da tribuna do Senado para que seus colegas de bancada compareçam à convenção amanhã.
- Convido todos a estarem presentes nessa convenção, acreditando que, sem dúvida, o PMDB é um patrimônio do povo e da democracia - disse Mão Santa, que integra a chapa de Temer.
Mesmo disposto a não participar da convenção, o senador José Sarney, que também apoiou Jobim, já havia deixado claro, desde que Lula confirmou a indicação de sua filha, Roseana, para a liderança do governo no Congresso, que não permitiria que os problemas internos do partido abalassem sua relação com o presidente.
- Isso é um episódio partidário. A minha relação com o Lula é extremamente pessoal - afirmou Sarney.