Título: Partidos aliados já disputam os cargos de segundo escalão
Autor: Franco, Ilimar
Fonte: O Globo, 11/03/2007, O País, p. 10

Objetivo de todos é conseguir reduzir espaço do PT, ocupando diretorias de estatais e postos federais nos estados que estão nas mãos de petistas.

BRASÍLIA.Os partidos da base aliada do governo já estão se armando para a próxima etapa da formação do governo: a do preenchimento de funções nas estatais e no segundo escalão dos ministérios, além dos cargos federais nos estados. A disputa, que ocorre nos bastidores, será deflagrada depois de quinta-feira, quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve anunciar a tão adiada reforma ministerial. O grande alvo dos aliados de Lula na partilha desses cargos é o PT, e seu grande objetivo, a "despetização".

Essa palavra sintetiza o desejo dos oito partidos da coalizão governista de ampliar seus cargos e reduzir o espaço dos petistas. Para se ter uma idéia, num universo de 26 estatais e bancos oficiais, o PT ocupa a presidência em nove deles, enquanto o PMDB tem quatro e o PSB, uma. Os 12 restantes são ocupados por funcionários do quadro da instituição ou por técnicos. O PT ocupa ainda a maioria dos cargos federais nos estados, como as superintendências do Incra, do Ibama, da Fundação de Saúde, entre outros.

Os governistas estão animados com a perspectiva de, enfim, participarem de fato do governo, repetindo o tradicional fisiologismo de troca de apoio no Congresso Nacional por cargos.

Lula diz a aliados que cuidará da distribuição

O presidente Lula garantiu aos aliados que cuidará pessoalmente da distribuição dos cargos para evitar que, no segundo mandato, se repita o que ocorreu no primeiro, quando o PT ocupou a maioria dos cargos, muito além de sua representação no Congresso.

A partilha desproporcional foi comandada pelo ex-ministro José Dirceu e pelos ex-integrantes da executiva do partido Silvio Pereira, Delúbio Soares e Marcelo Sereno, todos implicados no escândalo do mensalão. Para sinalizar que os critérios agora serão diferentes e que haverá uma partilha mais próxima à força de cada partido no Congresso, Lula vai escalar um aliado, o trabalhista Walfrido Mares Guia. Atual ministro do Turismo, ele vai comandar a coordenação política e as relações com a base parlamentar governista.

- Não dá mais para fingir que os aliados fazem parte do governo. O presidente garantiu que a partilha dos cargos não será feita como no primeiro mandato - afirma o líder do PSB, deputado Márcio França (SP).

Os socialistas, que querem dois ministérios, também desejam ampliar seus cargos no segundo escalão proporcionalmente ao crescimento eleitoral do partido, registrado em outubro do ano passado.

O formato da partilha, segundo os líderes aliados, já está decidido: haverá verticalização na estrutura central dos ministérios, mas as representações nos estados serão divididas de acordo com a correlação de forças locais. Para o líder do PTB na Câmara, Jovair Arantes (GO), não é mais possível que os deputados aliados votem a favor do governo no Congresso - como fizeram semana passada para evitar a CPI do Apagão Aéreo - se os cargos nos estados ficarem com o PT.

- Nós já conversamos com o presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (SP), com o líder do governo, José Múcio (PE), e com o ministro Tarso Genro. Tem que mudar. Hoje, em Goiás, quase todas as indicações são deles, do PT. E lá são dois deputados do PT contra dez aliados - diz Jovair.

PP quer manter cargos que tem ou chegou a ter

O PTB não tem cargos nas estatais, desde o rompimento de seu presidente, Roberto Jefferson, com o governo Lula, e ainda não sabe que espaços ocupará. Já o PP quer manter os cargos e as diretorias que tem ou chegou a ocupar no primeiro mandato: Anvisa, Instituto de Resseguros do Brasil (IRB), Secretaria de Ciência e Tecnologia do Ministério da Saúde, Furnas, a presidência do Gasoduto Brasil-Bolívia e a diretoria de Abastecimento da Petrobrás.

O líder do PP, Mário Negromonte (BA), avalia que o fato de o partido ter ficado no Ministério das Cidades é um bom indicativo:

- Nos estados, no passado, houve muita insatisfação. Ficou tudo nas mãos do PT. Agora, o presidente nos disse que vai cuidar pessoalmente. O ministro Márcio Fortes vai colocar a sua equipe para tocar o ministério - afirma Negromonte.