Título: Com 18 mil pedidos a mais, procura por energia dobrou na Zona da Mata
Autor: Ordoñez, Ramona
Fonte: O Globo, 11/03/2007, Economia, p. 34

Donos de terras improdutivas resolveram desenvolver atividades agrícolas Ramona Ordoñez

CATAGUASES (MG). A Companhia Força e Luz Cataguazes Leopoldina, distribuidora de energia em 66 municípios da Zona da Mata de Minas Gerais, foi surpreendida com o fenômeno que vem acontecendo a partir da oferta de energia elétrica na área rural. Segundo Sérgio Sebastião Soares, responsável pela coordenação do programa de universalização da energia Luz para Todos, até o fim do ano passado, a distribuidora cumpriu sua meta e ligou nove mil residências. A companhia foi surpreendida, contudo, com 18 mil novos pedidos de ligações na área rural, o dobro da meta inicial.

- Esses novos pedidos acontecem porque, de um lado, muitas pessoas não tinham se cadastrado, por não acreditarem no programa. Outro motivo é que muitos moradores da região que tinham terras improdutivas por falta de energia resolveram desenvolver alguma atividade agrícola, além de outros que estão voltando, num verdadeiro êxodo urbano - destacou Soares.

Filhos seguem caminho dos pais e ficam na área rural

Durante dez horas, a equipe do GLOBO percorreu vários municípios da Zona da Mata, como Guiricema e Cataguases, ouvindo os relatos das pessoas que não escondiam a felicidade com planos de aumentar seus negócios ou iniciar atividades nas terras até então improdutivas. Outros estavam realizando o sonho de voltar para o campo depois de viverem por muitos anos nas grandes cidades. Admirável ver a disposição de homens e mulheres, com mais de 50 anos, começando uma vida nova no campo, de volta à plantação e ao fogão à lenha.

Muitos que já moravam no interior aumentaram seus negócios, com a chegada da energia. É o caso de Antonio José Oliveira, que herdou terras do pai em Ervália, na Zona da Mata. Sem luz, já tentara fazer alguma plantação e criar suínos, sem sucesso.

- Os porquinhos morriam de frio por falta de aquecimento. Agora isso não é mais problema, e estou ampliando a criação - disse o agricultor, que também quer comprar máquinas para melhorar a qualidade do café tipo exportação (café bebida) que está plantando no sítio.

Segundo o diretor do Luz para Todos do Ministério de Minas e Energia, José Ribamar Santana, à medida que os pais ficam no campo ou voltam à área rural, os filhos seguem o exemplo.

O presidente da Cataguazes Leopoldina, José Antonio da Silva Marques, o Zé Tunim, como é chamado por todos, destacou que é fundamental um trabalho conjunto de governos federal, estadual e municipal e empresas para desenvolver os Centros Comunitários de Produção (CCPs), projetos destinados a identificar e desenvolver as potencialidades das regiões.

- A luz é o carro-chefe do desenvolvimento. Não basta só levar energia, é preciso identificar as potencialidades e qualificar pessoal para promover o incremento da economia - afirmou Zé Tunim.

O executivo diz que a chegada da energia contém o êxodo rural e gera crescimento econômico, com as pessoas comprando mais aparelhos elétricos e eletrônicos, como geladeiras, televisores e máquinas:

- O êxodo para as grandes cidades é inadmissível. Por isso, esse programa de eletrificação é importante e deve continuar.

A chefe de gabinete da Secretaria de Agricultura Familiar do Ministério do Desenvolvimento Agrário, Lilian Rahal, destacou, por sua vez, que a energia elétrica é fundamental para os diversos programas executados, seja pelo governo ou por iniciativa privada e ONGs, para promoção do desenvolvimento na área rural. Ela diz que, depois da energia, é imprescindível a oferta de crédito rural e assistência técnica para ampliar as atividades da região. Segundo ela, na safra de 2005/2006, foram desembolsados R$7,5 bilhões em crédito agrícola, ante R$2,3 bilhões na safra anterior, por exemplo.

- Temos ouvido relatos do retorno ao campo por uma série de fatores, como a chegada da luz, seguida de crédito rural e assistência técnica. Muitos filhos de pais que ficaram na área rural estão voltando por causa desses fatores, que dão oportunidades de trabalho - disse Lilian.

Segundo ela, a secretaria desenvolve uma série de mecanismos para promover a agricultura familiar, e, sem dúvida, a chegada da energia é fundamental, dinamizando a economia local com o uso de máquinas e equipamentos.