Título: Marta e 2010
Autor: Cruvinel, Tereza
Fonte: O Globo, 12/03/2007, O Globo, p. 2

A novela sobre a presença no Ministério da ex-prefeita de São Paulo Marta Suplicy iluminou a disputa que está sendo travada na principal tendência petista, o Campo Majoritário. No segundo mandato, dizem dirigentes petistas, com o enfraquecimento eleitoral das tendências de esquerda, a tensão interna está sendo ditada pela existência de dois projetos entre os moderados.

Marta Suplicy é, desde logo, candidata à sucessão de 2010. Sua presença no governo, e o alarde que fazem seus aliados, tem como objetivo consagrá-la como uma espécie de candidata única e incontestável. Viabilizar Marta é fundamental para que o PT paulista mantenha sua hegemonia. Já o presidente Lula, ao cozinhar sua nomeação, dá sinais de que aposta na construção de outra alternativa, como a do governador da Bahia, Jaques Wagner.

A disputa no Campo Majoritário tem muitas nuances. Os integrantes do Campo, que estão na periferia, querem reduzir o protagonismo da ala paulista. O escândalo da compra do dossiê Vedoin e dos aloprados, na campanha presidencial de 2006, serve de mote para uma campanha por mudanças. A tese da renovação do PT, formulada pelo ministro Tarso Genro, foi apoiada com entusiasmo pelo presidente Lula e pelos governadores petistas. Mas diante da reação dos paulistas, todos se recolheram e deixaram Tarso sozinho no ringue. O presidente, no aniversário de Salvador, chegou a advertir o ministro por sua eloqüência mas não pelo desejo de renovação.

A oposição faz uma campanha tentando vender a idéia de que o presidente Lula está atrás de um terceiro mandato. Mas nas conversas com os aliados, Lula tem afirmado que sua grande meta política é fazer o sucessor. Os primeiros movimentos indicam que Lula não quer ficar preso à candidatura Marta Suplicy e nem pretende, de fato, abrir espaço para uma candidatura fora do PT. O presidente pretende se impor no seu partido e alinhar os partidos aliados à sua escolha. Por isso, ele não gostou da formação do Bloco de Esquerda, pelo PSB, PCdoB e PDT, que também tem ambições presidenciais. Os dirigentes desses partidos foram informados pelo próprio de sua contrariedade. O presidente está trabalhando para inviabilizar esta articulação e pretende usar o PDT, cujos dirigentes foram voto vencido, para esse fim. Ele quer ter esses partidos ao seu lado na luta contra o grupo que se articula em torno da candidatura Marta Suplicy.