Título: Defesa de Lula não impede a humilhação
Autor: Vasconcelos, Adriana e Damé, Luiza
Fonte: O Globo, 12/03/2007, O País, p. 3

Garotinho muda discurso, é rejeitado por bancada e quase fica fora da executiva nacional.

BRASÍLIA. As tradicionais confusões nos encontros do PMDB ficaram restritas, desta vez, à guerra de poder entre o governador do Rio, Sérgio Cabral Filho, e o ex-governador Anthony Garotinho. Comandada por Cabral, a bancada federal do estado traiu Garotinho ao preteri-lo para a vaga reservada ao Rio na executiva nacional e escolher o deputado Nelson Bornier. De nada adiantou Garotinho, antes, mudar seu tradicional discurso e até defender a união com o governo Lula.

Revoltado, Garotinho deixou a convenção antes do fim, ameaçou sair do partido, exigiu do presidente reeleito Michel Temer uma solução e, ao fim do dia, conseguiu uma virada de mesa pela porta dos fundos: o partido lhe ofereceu a vaga que seria preenchida pelo Rio Grande do Norte. Garotinho acabou ficando como segundo-secretário da executiva, um entre os 19 cargos do novo diretório nacional do partido.

Sonho da Presidência fica mais distante

Sem cargo público, Garotinho jogou todas as fichas na eleição da executiva. Ele não aceitava ficar fora do grupo que tentará construir uma candidatura própria à Presidência em 2010, sonho que apesar de distante, ainda acalenta. Por isso esteve ao lado de Temer na disputa pela presidência do partido com Nelson Jobim. Ontem, ao ser jogado para o lado por Cabral, que apoiara Jobim, Garotinho cobrou a fatura de Temer.

- Foi solução política. Ele nos ajudou muito e não poderia ficar de fora - disse o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), que cedeu a vaga de seu estado de olho nos votos dos deputados ligados ao ex-governador.

Garotinho estava tão disposto a se alinhar ao comando do PMDB que chegou à convenção com um discurso conciliador como não se via desde 2002. Afinado com Temer, defendeu o governo de coalizão.

- O PMDB não faltará à governabilidade do governo Lula. O PMDB estará ao lado do presidente Lula toda vez que o PFL e o PSDB tentarem atrapalhar - falou em discurso na convenção do PMDB.

Mas o clima cordial só durou até o início da tarde, por volta de 15h, quando a bancada do Rio se trancou numa sala para decidir o nome do estado na executiva. Ao perceber que seria abandonado por aliados de longa data, Garotinho se disse traído e ameaçou deixar o PMDB. Segundo pelo menos três participantes da tensa reunião, ele se queixou de Cabral em sua frente.

- Eu ajudei a eleger o governador e fui traído - disse.

Após a reunião, Garotinho e sua mulher, Rosinha Garotinho, deixaram o centro de convenções onde foi realizado o encontro sem dar entrevistas, assim como Sérgio Cabral. Pouco depois, a filha de Garotinho, Clarissa Matheus, que comandava a claque do ex-governador, convocou o grupo a fazer o mesmo:

- Rio, fomos traídos, já podemos ir embora - disse aos militantes.

Logo depois, bombeiros de plantão chegaram a anunciar uma saída para a crise: ceder a vaga do Rio Grande do Norte a um aliado de Garotinho, o deputado Geraldo Pudim. Temer chegou a dar entrevista dizendo que a vaga seria uma homenagem do partido à atuação do ex-governador. Mas Garotinho disse não. Quis a a vaga para ele, o que desagradou outras lideranças, que o consideram desagregador.