Título: Ajuda do amigo americano
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Fonte: O Globo, 12/03/2007, O Mundo, p. 20

Bush reitera apoio a Uribe contra narcoterrorismo, apesar da desconfiança do Congresso.

Sob um pesado esquema de segurança, o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, fez ontem uma visita de sete horas à Colômbia, durante a qual confirmou seu apoio ao presidente Alvaro Uribe, seu maior aliado na região, prometendo continuar a ajudar no combate a grupos armados e convencer o Congresso americano a ratificar um acordo bilateral de comércio, assinado no ano passado.

- Será uma grande alegria continuar trabalhando para derrotar os narcotraficantes e narcoterroristas. Há muito que podemos fazer, mas uma parte é ajudá-los a exercer controle sobre seu território - disse Bush que, na penúltima escala de sua viagem à América Latina, chamou Uribe de "amigo pessoal", mas admitiu resistências no Congresso americano a aprovar mais ajuda ao país após a prisão de oito políticos da base governista, acusados de ligação com grupos paramilitares. - Levar os que violam os direitos humanos à Justiça será muito importante para o nosso Congresso.

Foi a recepção mais formal que Bush recebeu desde que partiu de Washington, na quinta-feira, rumo ao Brasil. A exemplo de São Paulo e Montevidéu, fortes protestos se repetiram em Bogotá, com a polícia usando gás lacrimogêneo e canhões de água para conter manifestantes. Pelo menos 120 pessoas foram detidas, em meio a ataques a lojas do McDonald"s e à queima de bandeiras americanas. Quatro policiais e dois civis ficaram feridos.

Comitiva com 70 carros blindados

Bush desembarcou às 11h55m (hora local) na Base Aérea de Catam e se dirigiu ao palácio presidencial numa caravana de 70 carros blindados, sob o olhar de policiais postados a cada dez metros do caminho e de atiradores de elite no alto de edifícios. Próximo à Casa de Nariño, a caravana - que incluía a secretária de Estado, Condoleezza Rice - recebeu a escolta da comitiva militar em uniforme de gala. Ao todo, 22 mil policiais e militares colombianos faziam a segurança da capital, auxiliados por centenas de agentes americanos. Nem a guarda de honra escapou da revista dos americanos.

Apesar de ser a segunda visita de Bush à Colômbia - ele se encontrou com Uribe em Cartagena, em 2004 -, somente dois presidentes americanos pisaram antes na capital do país: John F. Kennedy, em 1961, e Ronald Reagan, em 1982.

Bush prometeu tentar obter no Congresso a aprovação do acordo de livre comércio e a renovação do Plano Colômbia, de combate ao narcotráfico. Bogotá já recebeu mais de US$4 bilhões desde 2000, grande parte para o conflito contra grupos armados que combatem o governo. O apoio é crucial para Uribe, especialmente quando vê aliados envolvidos no escândalo da "parapolítica", que fez a chanceler María Consuelo Araújo renunciar em fevereiro após o irmão ser detido, suspeito de ligação com paramilitares.

Uribe, por sua vez, disse a Bush que a Colômbia poderia se tornar uma fonte de biocombustíveis, lembrando que o país é o terceiro produtor de etanol, atrás apenas de Brasil e EUA:

- Temos mais de seis milhões de hectares de terras que podemos conquistar para os biocombustíveis.

Os protestos reuniram milhares de pessoas. Grupos saquearam lojas, atacaram bancos e queimaram uma motocicleta. Os manifestantes enfrentaram com pedras a polícia e chegaram a romper o cordão de isolamento. A caravana passou a 200 metros do incidente. "Bush terrorista!", gritavam. Mas a ameaça de ataque da guerrilha a Bogotá não se concretizou, apesar de dias antes autoridades interceptarem comunicações sobre isso. Seis bombas, porém, explodiram em Cali e Buenaventura, deixando três feridos.

Bush partiu à noite para a Guatemala, penúltima escala de sua viagem, antes de seguir para o México.

Com El Tiempo