Título: Foram exatos oito meses
Autor: Alvarez, Regina
Fonte: O Globo, 13/03/2007, O País, p. 3

DO CÉU AO INFERNO: "Entre o dia em que o chefe de gabinete da Presidência, Gilberto Carvalho, veio me sondar sobre uma possível candidatura presidencial e a minha saída do ministério foram exatos oito meses. Do diálogo inesperado, a sós, com o assessor mais próximo de Lula na própria sala do presidente, no terceiro andar do Palácio do Planalto, numa tarde fria de julho, até a cerimônia de transmissão de cargo ao novo ministro, numa manhã quente de março, perante umas 500 pessoas, dois andares abaixo, o tempo custou a passar. Embora curto, foi um período pródigo em lances de bastidores e uma movimentação clara para afastar da Esplanada o terceiro integrante do chamado núcleo duro dos primeiros anos do governo Lula".

ESCÂNDALO DO MENSALÃO: "Lula ficou muito preocupado. Principalmente porque se surpreendia com as novas revelações e com a horrível sensação de que aquilo parecia não ter fim. De fato, a figura de Marcos Valério e seus empréstimos ao PT não eram conhecidos no Palácio do Planalto".

SOBRE ROGÉRIO BURATTI: "Em agosto de 2005, os promotores fecharam o cerco contra Rogério Buratti e o levaram à prisão, com o pretexto de que ele estaria obstruindo as investigações. Dois dias depois, após negociar sua liberdade em troca de uma inverídica delação premiada, ele foi levado algemado e com uniforme de presidiário para depor na Polícia Civil de São Paulo. Nesse depoimento, ele afirmou que uma empresa de saneamento de Ribeirão Preto, a Leão & Leão, teria pago, durante dois anos, uma propina de R$50 mil mensais ao diretório nacional do PT".

A LULA, SOBRE AS DENÚNCIAS DE BURATTI: "Presidente, o fato não é verdadeiro - assegurei. (...) Vou esclarecer isso da melhor forma possível, mas considere que a crise está vindo para o meu lado, e, se você quiser que eu saia, não hesite em me dizer. E fique tranqüilo em relação à política porque ela não depende mais de mim. (....) Lula disse que não queria que saísse e que voltaríamos a conversar no dia seguinte".

CASEIRO FRANCENILDO: "Embora recheado de contradições e algumas incoerências, o depoimento (do caseiro) foi largamente utilizado para reforçar a artilharia pesada da oposição. Ainda que não tivesse sido apresentada qualquer prova ou evidência para dar um mínimo de credibilidade ao que acabara de ser dito, valia tudo para tentar provar que eu mentira à CPI - a senha buscada pela oposição para exigir meu afastamento".

MERCADANTE: Palocci conta que o senador Aloizio Mercadante era um dos que defendiam o anúncio antecipado do nome do ministro da Fazenda para acalmar os mercados e afirma que o senador parecia gostar da idéia de assumir o Ministério da Fazenda, e ele, o do Planejamento, como o próprio Palocci teria sugerido a Lula, recebendo um "nem pensar" como resposta. Já em outro trecho do livro, Palocci afirma que Mercadante escolheu permanecer no Senado. Mas o ex-ministro relata um comentário do então assessor de imprensa Ricardo Kotscho: "Lula - provocou, com malícia - acho bom você anunciar logo quem vai ser o ministro da Fazenda. Assim você acalma o mercado e o Mercadante..."