Título: Boa química com Armínio
Autor: Alvarez, Regina
Fonte: O Globo, 13/03/2007, O País, p. 3

FORMAÇÃO DO MINISTÉRIO: O ex-ministro Antonio Palocci conta que, depois de eleito, Lula chamou Mercadante e Dirceu, além dele, para uma conversa, e foi direto: "Eu ainda não decidi os nomes dos ministros, mas vocês três têm que que se preparar. Entre vocês, quero o ministro da Fazenda e o ministro da Casa Civil (...). Ou o Zé Dirceu fica no Congresso e Mercadante vem para o governo ou será o contrário: teremos que decidir. Se o Zé ficar no Congresso, o Palocci irá para a Casa Civil, e o Mercadante fica na Fazenda. Se o Mercadante ficar no Senado, então o Palocci será o ministro da Fazenda, e, neste caso, o Zé assumirá a Casa Civil. Não vamos decidir agora. Quero apenas que vocês pensem nisso e se preparem".

SOBRE A CARTA AO POVO BRASILEIRO: Lula teria ficado muito desconfortável com a primeira versão da "Carta ao Povo Brasileiro", que teria sido gestada durante um almoço em uma mesa no fundo do Adega Leone, um restaurante português em Ribeirão Preto, em maio de 2002, e as primeiras versões redigidas pelo professor Glauco Arbix, amigo de Palocci, que se tornou presidente do Ipea. "A cada trecho que lia, abordando temas econômicos controvertidos, (o presidente) franzia a testa (...). Ficava evidente que não seria fácil digerir aquilo".

DIVERGÊNCIAS COM DIRCEU: "Lula acompanhava as divergências e arbitrava quando julgava necessário. Mas nunca fez muita questão de pacificar as posições antagônicas entre seus assessores - o que, por sinal, é uma das características marcantes de sua liderança. O presidente permite que as divergências internas existam e sigam o seu curso natural. (...) Uma leitura rápida dos jornais e revistas da época daria ao leitor desavisado a falsa impressão de que eu e Dirceu brigávamos dia e noite - o que, definitivamente, nunca aconteceu".

SOBRE O FMI: "Levamos seis meses para convencer o Fundo e obter a concordância formal sobre a autonomia na elaboração da política econômica (...) Em pouco tempo pude constatar que a equipe de técnicos brasileiros era muito superior à equipe supervisora do Fundo, que aos poucos desenvolveu um grande respeito por seus contendores".

SOBRE JOAQUIM LEVY: O ex-ministro diz que a primeira impressão que teve de Levy "não foi das melhores". "Ele falava pouco e para dentro, com a boca quase fechada. Embora não fosse um modelo de pessoa fácil para se lidar, Joaquim Levy - que conheci melhor com o tempo e com quem acabei tendo um relacionamento excelente - possuía o perfil ideal para zelar pelo Tesouro Nacional. (...) Tive que iniciá-lo na arte da política, pois, do contrário, a permanência dele correria perigo. (...) Conversava muito com ele sobre o general Sun Tzu, o grande estrategista chinês, para quem um dos segredos da boa batalha é lutar fazendo um mínimo de força (...)"

ARMÍNIO FRAGA: "A montagem da equipe do Banco Central também foi bastante cuidadosa. Chegamos mesmo a pensar na permanência de Armínio Fraga por alguns meses. Ele esteve com o presidente Lula por duas vezes no final de 2002, e tivemos uma boa química. Lula gostou do seu raciocínio rápido e do seu pragmatismo."