Título: FH prevê futuro sombrio sem reforma
Autor: Braga, Isabel e Jungblut, Cristiane
Fonte: O Globo, 13/03/2007, O País, p. 8

Ex-presidente defende mudanças no sistema político, com voto distrital puro.

SÃO PAULO. Com mais de um mês de atraso, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) criticou ontem o próprio partido por causa do apoio que parte da bancada deu ao deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP), contribuindo decisivamente para sua eleição como presidente da Câmara dos Deputados.

- Nunca vi, em política, fortalecer o adversário. Vi com tristeza o apoio de parte do PSDB ao PT - criticou o ex-presidente, que participou ontem do seminário "Voto distrital: A reforma política que interessa ao Brasil", promovido pela Associação Comercial de São Paulo e pelo Instituto Fernando Henrique Cardoso.

O ex-presidente previu um futuro sombrio para a democracia brasileira se não houver mudanças no sistema político. As mudanças, defendeu, devem começar pelo voto distrital puro nas eleições municipais do próximo ano.

- Não estou prevendo nada, isso não está acontecendo agora, por isso mesmo é um bom momento para discutirmos isso - esquivou-se, depois de chamar a atenção para a possibilidade do "risco do desmoronamento das instituições republicanas".

Afirmou ainda que o maior problema do país na atualidade é a impunidade. Segundo ele, não existe a crença de que a lei é para ser respeitada.

Fernando Henrique disse que o "erro estratégico" do PSDB ao apoiar o petista não pode ser confundido com crise interna ou fragmentação, mas deve ser atribuído ao método político do grupo tucano que tomou a posição de apoio a Chinaglia.

O tucano disse que o ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB) seria um bom candidato para disputar a prefeitura de São Paulo nas eleições de 2008:

- Seria um bom candidato. Mas não o único. Também não sei se ele quer ser.

Fernando Henrique discordou da conclusão de que seu primeiro mandato foi igual ao primeiro de Lula, levando-se em consideração a expansão média da economia brasileira:

- A diferença é que eu só tinha crise financeira mundial e aqui (com Lula) não tem nenhuma. Acho que perdemos tempo. O clima mundial aqui nunca foi tão bom desde os anos 70. Já nos oito anos do meu governo, eu só tive dois anos de crise financeira (1996 e 2000). E no ano de 2000 o PIB cresceu 4,6%.

Fernando Henrique apoiou o anúncio do deputado Michel Temer (SP), reeleito neste domingo presidente nacional do PMDB, de que o partido lançará candidato próprio à Presidência da República em 2010.

- O PMDB já deveria ter (candidatura própria) há mais tempo - disse.