Título: PR incha e levanta suspeitas
Autor: Braga, Isabel e Éboli, Evandro
Fonte: O Globo, 14/03/2007, O País, p. 3

Aliado do governo, partido atrai parlamentares e leva oposição a falar em volta de mensalão.

Um dos pivôs do escândalo do mensalão, o PR (antigo PL), não pára de crescer e volta a levantar suspeitas na Câmara dos Deputados. O partido elegeu 23 deputados em 2006, na fusão com o Prona ganhou mais dois, mas hoje já tem uma bancada de 38. Acusado de oferecer vantagens na liberação de emendas do Orçamento e cargos no governo Lula para atrair deputados, o partido incha e é bombardeado pela oposição, maior vítima da debandada geral. A maior parte dos deputados que foram para o PR saiu de partidos da oposição - PFL, PSDB e PPS.

- Sinto no ar que há algo estranho ocorrendo de novo, e é a mesma sensação que se tinha antes e acabou no mensalão - disse o líder do PPS, Fernando Coruja (SC).

- O PR comemora seu crescimento nos moldes do que vem fazendo, é uma extorsão da política brasileira - afirmou o ex-líder do PFL Rodrigo Maia (RJ).

O PPS perdeu dois deputados para o PR: Homero Pereira (MT) e Lucenira Pimentel (AP). No caso de Homero, Coruja afirma ser ligado ao governador de Mato Grosso, Blairo Maggi, que filiou-se recentemente ao PR.

Jefferson: "Conheço essa prática"

Até mesmo o ex-deputado Roberto Jefferson, presidente do PTB, que denunciou o mensalão e teve o mandato cassado, atacou ontem a prática da qual se utilizou no passado:

- O que o PR está fazendo me preocupa. Conheço essa prática. Já vi esse filme e já li esse prefácio.

O líder do governo na Câmara, José Múcio (PTB-PE), reagiu:

- Não acredito. Quem viveu o que vivemos (na época do mensalão) não pode acreditar nisso.

Diferentemente do que ocorreu no primeiro mandato do presidente Lula, desta vez o PTB não tem sido a opção preferencial de deputados que migram para partidos da base. Um dos principais motivos seria o fato de o PTB ter como presidente Jefferson, agora na oposição ao governo. O PTB elegeu 22 deputados e hoje tem 21.

Líder do PR na Câmara, Luciano de Castro (RR) nega que esteja em gestação um novo mensalão:

- Pelo amor de Deus! Já tivemos a coragem de reformular o partido. Aprendemos a lição.

Quem vai para um partido da base não nega que a maior facilidade na liberação de emendas orçamentárias é um dos atrativos. José Rocha, que era do PFL, é um dos que mudaram para o PR e que admitem: ser da base do governo facilita a liberação:

- Mas não é só isso. Fui para o PR porque estava sem espaço no PFL, e aqui tenho chances de relatar projetos importantes e até concorrer a um cargo na Mesa.

Homero Pereira foi líder do movimento que ficou conhecido como tratoraço, em 2005, que parou o país contra a política agrícola do governo:

- Agora, vamos lutar pelos agricultores sendo da base do governo, o que pode ser mais fácil. Mas se tivermos que ir de novo para a rua, vamos sem hesitar - disse.

Alguns parlamentares argumentam que o PR tem trunfos a oferecer, como o cobiçado Ministério dos Transportes, com cargos em todos os estados e ligações com empreiteiras, responsáveis por grandes obras.

Também é dada como certa a ida do senador pefelista Édison Lobão (MA) para a legenda.

O líder Luciano Castro (RR), em recente declaração, não escondeu:

-- Vários deputados precisam estar na base aliada. Caso contrário, começam a perder prefeitos e vereadores. Um deputado que precisa do governo não agüenta muito tempo na oposição. É como um castelo de areia que se esfarela: se o deputado não responder às necessidades de sua base, começa a perder apoio.

Ontem, porém, mudou o discurso:

- O partido é novo, está montando executivas no estado e nos municípios, tem tempo de TV e fundo partidário, que os partidos tradicionais não podem oferecer. É isso que atrai os deputados.