Título: Presidente diz que dinheiro do PAC não vai 'engordar superávit'
Autor: Freire, Flávio
Fonte: O Globo, 14/03/2007, O País, p. 4

Lula pede "afinação entre empresários" para evitar recurso à Justiça após licitações

SÃO PAULO. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem que o governo não ficará com dinheiro em caixa, "engordando o superávit primário", enquanto governadores e prefeitos não estabelecem cronogramas para licitações e obras em seus estados e municípios. Lula avisou que vai transferir investimentos de um estado para outro, ou de uma cidade para outra, se os projetos não andarem.

- Vamos chamar governadores, prefeitos e, se até tal data não estiver pronto um projeto executivo, para que possa licitar e começar uma obra, nós vamos transferir o dinheiro para outro projeto, em outro estado, em outra cidade. Não ficaremos com dinheiro em caixa, esperando para engordar o superávit primário no final do ano - disse o Lula na abertura da Feira Internacional de Construção (Feicon), em São Paulo.

Furlan: "É preciso acreditar que o PAC é para valer"

O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Luiz Fernando Furlan, endossou as críticas do presidente:

- Há muitos casos em que os municípios perdem completamente o recurso porque ele não pode ser comprometido para o ano seguinte, caso não haja o mínimo de documentação. É preciso acreditar que o PAC é para valer e os municípios e estados precisam agilizar os documentos - disse Furlan na cerimônia.

O dinheiro destinado a municípios e estados está disponível, mas, segundo Lula o governo pretende fazer uma ação mais democrática e civilizada com cada um dos governantes.

- Quando a gente disponibiliza dinheiro, queremos gastar cada centavo. Estamos cansados de ver, nos últimos 30 anos, ser anunciado o dinheiro no início do ano e, depois, o dinheiro volta para o Tesouro porque as prefeituras não tinham projeto e não estavam preparadas para construir a obra - disse Lula, que também mandou um recado para os empresários. - É preciso uma afinação entre os empresários, para quando tiver uma licitação não ficar um empresário entrando na Justiça contra o outro, pedindo liminar. É preciso pôr ordem na casa, é preciso ter uma coordenação.

Em meio a críticas à política de juros adotada em seu governo, o presidente afirmou que a taxa continuará caindo, mas sem mágica e destacou o bom momento macroeconômico:

- O Brasil vive um momento mágico da nossa macroeconomia, das nossas reservas, do superávit da balança comercial e da política de importação. Sem decreto, sem leis, sem mágica, os juros continuarão caindo e o câmbio vai se valorizando. Sempre que alguém tentou inventar mágica o resultado não deu certo - disse ele.

Os empresários criticarem o nível da taxa Selic, que determina o juro básico da economia.

- Precisamos da redução da taxa de juros para que o PAC possa alcançar seus resultados - disse o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção, Melvyn Fox, que discursou antes de Lula.