Título: Enfim, a primeira confirmação: Tarso na Justiça
Autor: Lima, Maria e Freire, Flávio
Fonte: O Globo, 14/03/2007, O País, p. 5

Depois de reclamar, presidente agora diz que PT está maduro e entende as composições com outros partidos.

BRASÍLIA e SÃO PAULO. Depois de 72 dias de governo no segundo mandato, o Palácio do Planalto confirmou, enfim, a primeira mudança que o presidente Lula fará no Ministério. Na sexta-feira, o ministro Márcio Thomaz Bastos, da Justiça, vai entregar o cargo ao petista gaúcho Tarso Genro, hoje ministro de Relações Institucionais. A solenidade está marcada para as 11h. A cerimônia de posse será um pouco antes, no Planalto. Não se sabe ainda que outros ministros poderão ser empossados no mesmo dia.

O ultimato dado por Lula anteontem levou a direção do PT a recuar na cobrança pública de mais espaço no Ministério e acabar com a novela Marta Suplicy. Em vez do cobiçado Ministério das Cidades, ela terá que se contentar com a pasta do Turismo. O PT deve perder ainda mais espaço, pois, além das duas lideranças governistas no Congresso e do Ministério das Relações Institucionais, deverá ficar ainda sem a Previdência, negociada ontem com o PDT para o presidente do partido, Carlos Lupi (RJ). O Rio deverá ter mais um ministério - o sanitarista José Gomes Temporão deve ser confirmado na Saúde.

"Não faz sentido o PT ir além do que já foi"

Ontem, um dia depois de reclamar do PT, Lula amenizou o discurso e elogiou o comportamento do partido. Ele disse que os petistas não o pressionam e, mais uma vez, afirmou não ter pressa para anunciar novos ministros. Lula disse que não está sendo cobrado por qualquer partido interessado em aumentar a presença no governo, mas considerou legítimo que as legendas façam reivindicações.

- O PT ontem (segunda) teve o comportamento que eu esperava de um partido grande, maduro. Sabe que o governo já tem a Presidência da República, que é de seu partido. Portanto, sabe que temos que fazer composições com outras forças políticas - disse Lula, durante a abertura da Feira Internacional da Construção, em São Paulo.

Em resposta a Lula, que enquadrou os petistas e pediu que lhe entregassem hoje apenas três nomes, o presidente do PT, Ricardo Berzoini (PT-SP), comunicou ontem a Tarso que não faria a triagem na lista já entregue ao presidente nem vincularia nomes a pastas. Com o recuo do PT, Lula e Tarso avançaram nas conversas para fechar a equipe. Depois da declaração de Lula elogiando o PT por abrir mãos dos pleitos na reforma ministerial, Berzoini disse que o partido não estava abrindo mão, mas facilitando a vida do presidente:

- Não vamos mais fazer nenhum movimento. Não faz sentido o PT ir além do que já foi.

Tendência de Chinaglia insiste em Magela

Internamente, contudo, a disputa entre as tendências para emplacar representantes no governo continuou acirrada. Representantes do Movimento PT, do presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (SP), não se conforma com a perda de espaço no governo. A briga é para nomear o deputado Geraldo Magela (PT-DF) na vaga de Tarso. Magela, que foi inocentado pela Justiça e pelo Ministério Público Eleitoral da acusação de receber R$100 mil do esquema Waldomiro Diniz, é defendido pela tendência.

- Espero que emplaque nossa indicação. Se não, será uma injustiça! Somos a segunda maior bancada no PT, e seríamos a única tendência a não participar do governo. Nosso nome é o Magela, para a articulação política ou para a Previdência - disse Maria do Rosário, do Movimento PT.

Apesar das divergências no PT e em outros partidos da base, Lula voltou a afirmar que quem manda no governo é ele:

- Os partidos sabem que, no fundo no fundo, quem tem que montar o Ministério é o presidente da República. É normal que digam que cargos gostariam de ter e que nomes gostariam de indicar, mas isso fica na escolha do presidente - reiterou.

COLABOROU: Cristiane Jungblut