Título: Seqüestros: PF vai enviar força-tarefa para AL
Autor: Ferreira, Arnaldo e Gripp, Alan
Fonte: O Globo, 14/03/2007, O País, p. 9

Investigações apontam participação de banda podre das polícias Civil e Militar no crime organizado do estado.

MACEIÓ e BRASÍLIA. A Polícia Federal vai enviar para Alagoas pelo menos 30 homens do Comando de Operações Táticas e agentes da área de inteligência para ajudar as polícias Civil e Militar de Alagoas a combater o crime organizado e, particularmente, a onda de seqüestros. Esta semana, em menos de 24 horas foram seqüestrados o juiz Paulo Zacarias da Silva, de 52 anos, presidente da Associação dos Magistrados de Alagoas (Almagis), que continua em poder dos bandidos; e o advogado Luciano Paulo Leite, genro do presidente do Tribunal de Justiça do estado, libertado horas depois do seqüestro.

A ajuda foi pedida ontem, por telefone, pelo governador do estado, Teotônio Vilela Filho (PSDB), ao ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos. Os dois se encontram hoje de manhã, em Brasília, para decidir detalhes da ajuda policial e quando o reforço começará atuar. Este ano, Alagoas registrou 15 seqüestros, cinco deles contra juízes ou seus parentes.

- Vamos ajudar Alagoas a combater esta onda de seqüestros - prometeu Bastos.

Teotônio se antecipou ao pedir ajuda, para evitar uma recomendação de intervenção federal que a maioria dos nove desembargadores do TJ iria fazer ao ministro da Justiça.

- Recebi a garantia do ministro da Justiça que teremos apoio da Força Nacional de Segurança e da Polícia Federal para combater o crime organizado - disse Teotônio.

Mas o Ministério da Justiça não confirmou o envio de tropa da Força Nacional.

Segundo fontes ligadas ao governador, as investigações dos seqüestros apontam a participação da banda podre da polícia de Alagoas. Além de tentar solucionar os seqüestros em andamento, a força-tarefa da PF vai monitorar e desarticular a quadrilha que atuaria nas polícias Militar e Civil do estado.

Em 2007, 300 pessoas foram assassinadas no estado

O plano do governo alagoano é aproveitar a presença da PF para fazer uma varredura durante 90 dias nos 102 municípios do estado.

Só este ano foram assassinadas trezentas pessoas em Alagoas, a maioria vítima de crime de encomenda e em emboscada. O ex-presidente do Tribunal de Justiça, desembargador Estácio Gama de Lima, ficou em poder de assaltantes em sua casa de praia no litoral norte; há dois meses o juiz José Braga Neto, do Núcleo de Combate ao Crime Organizado teve a irmã seqüestrada; o atual presidente do TJ, desembargador José de Hollanda Ferreira, teve o filho seqüestrado e assaltado há um mês na porta do tribunal. Anteontem, o genro dele foi seqüestrado e libertado ontem de madrugada.

O presidente em exercício de TJ, desembargador Mário Casado Ramalho, disse que a segurança pública do estado vive um momento "muito sério e difícil".

- Não descartamos a possibilidade de uma intervenção.

Nos bastidores da polícia alagoana circularam rumores ontem de que a onda de seqüestros e de assassinatos na periferia de Maceió seria uma espécie de pressão para provocar a renúncia do secretário estadual de Defesa Social, general Sá Rocha, que trocou a Bahia por Alagoas a convite de Teotônio Vilela.

Sá Rocha disse que a polícia investiga a possibilidade de o seqüestro do juiz Paulo Zacarias ter sido uma ação para desestabilizar o governo do estado e a cúpula da Polícia Civil.