Título: Endividamento imobiliário já passa de 75% do PIB dos Estados Unidos
Autor: Eloy, Patricia
Fonte: O Globo, 14/03/2007, Economia, p. 20

Estoque de débitos em empréstimos residenciais é de US$10,19 trilhões

O endividamento total do setor imobiliário residencial americano chega hoje a US$10,190 trilhões. O volume salta aos olhos e, não à toa, tem concentrado as atenções do mercado recentemente: representa mais de 75% do Produto Interno Bruto (PIB) dos Estados Unidos, de US$13 trilhões. Os dados são do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) e do banco suíço UBS. Desse total, uma parcela de US$665 bilhões refere-se aos empréstimos de segunda linha, ou subprime, considerados de alto risco pois não exigem garantias, ao contrário de outras modalidades de financiamento. Como os dados mais recentes são do fim de 2006, o banco estima que, atualmente, esse tipo de linha represente 15% do total.

A questão é que, como os juros cobrados no subprime são pós-fixados, ao contrário dos empréstimos de primeira linha, a inadimplência pode crescer. Isso porque as taxas de juros americanas, que eram de 1,25% ao ano no fim de 2002, estão hoje em 5,25%, o que encareceu enormemente o custo do financiamento.

Os empréstimos de primeira linha (Prime) ¿ com garantias totais e baixo risco ¿ representam US$465 bilhões. Já as linhas Alt-A, que têm risco de moderado a alto, pois exigem poucas garantias e documentação para liberar os recursos, apresentam um estoque de dívida de US$634 bilhões. Juntos, Alt-A e subprime responderiam atualmente por 25% do endividamento total do setor imobiliário, de acordo com cálculos dos analistas do UBS.

Do endividamento total , 55,6% estão securitizados, isto é, as empresas de financiamento imobiliário venderam seus créditos a receber a terceiros, que assumem essas dívidas e a responsabilidade de reclamá-las. Os 44,4% restantes não são securitizados.

Para analistas, o risco hoje está nos empréstimos do tipo subprime, mas existe a chance de que os Alt-A também sofram com o crescimento das taxas de inadimplência que atingem o setor, devido ao aumento acelerado desse tipo de crédito nos últimos anos. Nesse caso, poderia haver a quebra de algumas empresas, mas como os dois mercados ¿ subprime e Alt-A ¿ são ainda pequenos frente à gigante indústria imobiliária americana, especialistas descartam uma grave crise por enquanto. As preocupações, porém, existem.

Analistas: baixo risco de contágio para o mercado

O economista Ricardo Amorim, chefe de Pesquisa para a América Latina do WestLB, em Nova York, explica que, se as taxas de inadimplência dispararem, pode haver a execução dos imóveis hipotecados, que voltariam ao mercado, o que derrubaria os preços vigentes e afetaria consumo e emprego, levando a economia americana a uma desaceleração brusca:

¿ Mas esse não é o cenário mais provável. As chances de que ocorra são inferiores a 15%, mas há uma preocupação real que, no entanto, está longe do pânico ¿ diz Amorim.

Gabriel Goulart, analista da Mercatto, concorda. Para ele, os riscos de contágio são pequenos para o tamanho do mercado imobiliário americano.

¿ Essa é apenas uma correção, não uma recessão no mercado imobiliário ou um crash ¿ afirma Rogério Zylbersztajn, sócio da presidente da RJZ/Cyrela, líder no mercado imobiliário brasileiro.