Título: PMDB pressiona e consegue de Lula cinco ministérios na reforma
Autor: Gois, Chico de e Damé, Luiza
Fonte: O Globo, 15/03/2007, O País, p. 4

MUDANÇA NO TIME: Presidente pede a Temer que apóie escolha de Temporão.

Além de Comunicações e Minas e Energia, partido terá Integração, Agricultura e Saúde.

BRASÍLIA. Dois meses e meio depois da posse do segundo mandato, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve concluir até amanhã a tão esperada reforma ministerial, com o PMDB conquistando mais espaço no primeiro escalão do governo. O PT continua com mais ministérios, mas Lula ampliou a cota que o maior partido da Câmara ocupará em seu governo: cinco ministérios, contra dois que tem atualmente. Mas, até ontem à noite, permanecia o mistério sobre o que o partido do presidente, o PT, levará nesta reforma, além do que já tem.

A indicação da ex-prefeita Marta Suplicy para o Ministério do Turismo - o que sobrou - não havia sido formalizada por Lula. E também voltou a ficar indefinida a substituição do ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, que irá para o Ministério da Justiça. Lula já havia escolhido o atual ministro do Turismo, Walfrido Mares Guia, para o lugar de Tarso, mas ontem voltou a analisar a possibilidade de levá-lo para o Ministério do Desenvolvimento, na vaga de Luiz Fernando Furlan.

Walfrido e seu partido, o PTB, não gostaram da sugestão e atribuíram isso, nos bastidores, ao desejo do PT de pôr na articulação política o ex-governador petista Jorge Viana ou o deputado Henrique Fontana (PT-RS). Ainda em relação ao PT, o presidente não definiu também quem será o novo ministro do Desenvolvimento Agrário. Lula participa da reunião do Conselho Político da coalizão hoje, quando deverá anunciar os novos ministros.

Orçamento de R$89 bilhões

Se o PT não tinha o que comemorar ainda, ontem a cúpula do PMDB era só alegria. Além dos ministros Hélio Costa (Comunicações) e Silas Rondeau (Minas e Energia), que serão mantidos, o partido assumirá a Integração Nacional com o baiano Geddel Vieira Lima, a Saúde com José Gomes Temporão e a Agricultura com o deputado ruralista Odílio Balbinotti (PR), que Lula só deverá conhecer pessoalmente hoje. Dessa forma, o PMDB administrará pastas com orçamentos recheados - somadas, atingem R$89 bilhões.

- O PMDB foi atendido integralmente em suas reivindicações - declarou, feliz da vida, o presidente do PMDB, Michel Temer, ao deixar o Palácio do Planalto, acompanhado do líder Henrique Eduardo Alves (RN). - O espaço foi compatível com o que o partido esperava.

Lula, segundo relato de peemedebistas, pediu apoio à indicação de Temporão, para a Saúde, sugestão do governador do Rio, Sérgio Cabral. Como considerou que o partido havia sido atendido "plenamente", Temer concordou:

- Não há dúvida de que apoiaremos o dr. Temporão, que foi uma lembrança do governador Sérgio Cabral. Portanto, está na nossa quota. No fundo, são cinco ministérios.

O PMDB apresentou, para a Agricultura, uma lista com cinco nomes: Waldemir Moka (MS), Tadeu Filippelli (DF), Fernando Diniz (MG), Eunício Oliveira (CE) e Balbinotti (PR). Inicialmente, o governo queria a indicação de um empresário da área agrícola. Temer disse que o partido tem empresários do setor entre seus filiados, mas afirmou que teria de ser um deputado e citou os nomes de Moka e Balbinotti. Ganhou o último.

Segundo Temer, Lula afirmou que, mesmo sem nunca o ter visto, recebeu "boas referências" de seu futuro ministro.

Ao retornar do Planalto, Temer e Henrique Eduardo Alves fizeram uma reunião com a bancada para apresentar Geddel e Balbinotti como os novos ministros. O clima era de euforia. Henrique contou que foi uma jogada de alto risco dizer a Tarso que só a indicação de Geddel não satisfazia a bancada, já que não era possível fingir que Temporão era da cota do PMDB.

Cortado por aplausos, Henrique disse que não poderiam aceitar que houvesse discriminação no partido, colocando o PMDB do Senado como mais importante que o da Câmara.

- Não podíamos fingir que o Temporão era nosso quando não era. Eu disse que queríamos um ministro que fosse oriundo das entranhas da bancada do PMDB na Câmara , que não fosse como o Temporão. Todos acompanharam a ética e a firmeza, estou falando pela Câmara, com que estamos tratando as questões da coalizão.

Ontem, numa rápida conversa com o deputado Paulinho da Força (PDT-SP), Tarso confirmou que o ministério reservado ao PDT é o da Previdência Social. O nome indicado pelo partido para o cargo é o do presidente do PDT, Carlos Lupi.

- O PDT só tem um candidato, que é o Lupi - disse o deputado ao deixar o Planalto.