Título: Especialistas: nova TR afeta poupador e ajuda bancos
Autor: Santos, Ana Cecília e Doca, Geralda
Fonte: O Globo, 15/03/2007, Economia, p. 25

Analistas sugerem redução de taxas de administração.

RIO e BRASÍLIAA decisão do governo de mudar o cálculo da Taxa Referencial (TR), reduzindo os ganhos da poupança e do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), recebeu duras críticas de especialistas da área financeira e de entidades de defesa do consumidor. Na avaliação deles, o governo poderia ter optado por não mexer nas regras vigentes para não prejudicar os pequenos poupadores, forçando os bancos a reduzirem as altas taxas de administração cobradas dos investidores, o que incentivaria a concorrência entre as instituições.

- A medida acabará prejudicando os pequenos poupadores, para quem a poupança é praticamente a única opção, já que a grande maioria não têm recursos suficientes para investir em outras aplicações. Enquanto isso, as instituições financeiras continuarão lucrando com os fundos de investimento, sem ter que diminuir as suas taxas de administração - diz o advogado Paulo Pacini, do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec).

Ganhos da caderneta vão cair dentro de um mês

O impacto da medida nos ganhos da caderneta - que poderá chegar a 10% - deverá acontecer já dentro de um mês e meio, se a expectativa do mercado de novo corte de 0,25 ponto percentual na taxa básica de juros (Selic) se confirmar na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom).

Para o vice-presidente da Associação Nacional dos Executivos em Finanças (Anefac), Miguel de Oliveira, o governo poderia ter optado em não mexer nas regras vigentes para não prejudicar os pequenos poupadores, o que teria como efeito forçar os bancos a reduzirem as taxas de administração dos fundos a fim de segurar os grandes investidores.

O principal temor do governo é que, com a Selic declinante, a poupança - que rende a TR, mais 0,5% ao mês - fique mais atrativa do que os fundos de renda fixa e cause uma migração de grandes investidores para a caderneta. Isso poderia levar a uma crise no setor financeiro, já que os bancos dependem hoje desses recursos. O alerta veio no segundo semestre de 2006, quando as captações da poupança deram um salto. Com cerca de 74 milhões de poupadores, a caderneta tem hoje um saldo de R$190 bilhões. Atualmente, os fundos de renda fixa alcançaram um volume em carteira da ordem de R$900 bilhões.

O consultor de finanças pessoais Victor Zaremba também critica o valor das taxas de juros cobradas pelo bancos que, acima de 4%, seriam "um verdadeiro roubo". No entanto, ele defende que a redução na rentabilidade da poupança é o preço do sucesso de ter uma taxa de juros real em queda:

- Não tem sentido uma poupança rendendo acima da taxa de juros real. Esse é o preço que se paga.