Título: Mantega: não sou pró inflação maior
Autor: Jungblut, Cristiane e Oliveira, Eliane
Fonte: O Globo, 15/03/2007, Economia, p. 26

Para ministro, BC deve perseguir meta de 4,5% porque foi fixada pelo governo

BRASÍLIA. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, veio a público ontem tentar botar panos quentes sobre a cobrança que fez ao Banco Central (BC) por mais ousadia na queda dos juros. Ao participar de reunião no Senado na terça-feira, Mantega havia dito que o BC deveria perseguir o centro da meta de inflação (4,5%) e não outro número, o que acabou sendo considerado uma crítica à política monetária e a defesa da permissão de uma inflação maior em prol do crescimento mais robusto. Mas o ministro disse ontem que foi mal interpretado, pois apenas lembrou que a meta é estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN):

- Algumas declarações minhas foram mal interpretadas. O que eu disse ontem (terça-feira) é que o BC deve perseguir o centro da meta. Aliás, estou chovendo no molhado porque isso é o que dispõe a legislação sobre esse aspecto. O que eu quis dizer foi que o BC deve perseguir essa meta porque ela foi fixada pelo governo e pelo CMN como a que permite ao mesmo tempo conciliar uma inflação sob controle e crescimento maior.

Mesmo assim, Mantega continuou deixando claro que o rigor excessivo com a inflação pode ter custos para o crescimento. O conservadorismo do BC ao decidir os juros tem feito com que a inflação fique bem abaixo da meta. O IPCA em 12 meses já está em 3,02%.

- O que nós não podemos é perseguir uma inflação menor, que sacrifique o crescimento. Tem gente que gostaria de ter uma inflação de 2% no Brasil - afirmou ele ao defender a manutenção da meta de inflação em 4,5% nos próximos anos. - O que não dá é, como se fazia no passado, que você ambicionava inflação muito baixa e nem conseguia fazer a inflação baixa nem conseguia o crescimento. Já tivemos centro da meta de 3%. Depois, tinha que ser revisada.

Mantega, que defendeu no Congresso inflação no mesmo nível que o crescimento da economia, disse que isso não significa menos rigor do governo. Para ele, é preciso encontrar equilíbrio entre os indicadores.

- O ideal seria que no Brasil conseguíssemos ter inflação suíça, hoje de 1%, e crescimento chinês. É claro que é difícil fazê-lo. Então, é preciso que inflação e crescimento estejam mais equilibrados. Não sou a favor de inflação maior, sou a favor de inflação sob controle. Se conseguirmos ter crescimento maior com inflação menor é o desejável, o melhor dos mundos.

O ministro acrescentou:

- Não estou recuando (sobre as declarações no Congresso). Alguns jornais deturparam o que eu falei. Estou esclarecendo para não deixar dúvidas.