Título: Estamos nos piores do mundo
Autor: Damé, Luiza
Fonte: O Globo, 16/03/2007, O País, p. 3

Lula promete "grande reforma" na educação; pacote inclui Bolsa Família para jovens.

Ao lançar ontem um pacote de medidas para a educação, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reconheceu que o ensino brasileiro está entre os piores do mundo e pediu apoio até da oposição para fazer uma "grande reforma" educacional no país. O pacote prevê, entre outras medidas, a criação de um Bolsa Família - o carro-chefe da campanha da reeleição - para jovens de 15 a 17 anos. Destina ainda mais verbas para os mil municípios com os piores indicadores educacionais e institui a "Provinha Brasil", que avaliará a qualidade da alfabetização de alunos de 6 a 8 anos. Ao lançar o plano, Lula disse que o processo de universalização da educação no Brasil não foi acompanhado de melhoria da qualidade do ensino.

- Já tivemos educação de qualidade no Brasil quando a gente tinha educação para pouca gente. Universalizamos (a educação), mas junto com a universalização não houve um acompanhamento da melhoria da qualidade da educação. Então, nós estamos nos piores do mundo, ou seja, estamos vendo crianças ficarem quatro ou cinco anos na escola, e a gente faz um teste apenas na 4ª série - afirmou.

Na transcrição do discurso, o Planalto mudou a frase que Lula havia dito para: "Nós estamos no pior dos mundos".

Falando para uma platéia de educadores, Lula pediu a cumplicidade de todos na reforma da educação, fez críticas ao sistema educacional e cobrou aprimoramento profissional dos professores. Mas afirmou que talvez, de todos os presentes, fosse o menos qualificado para falar de educação.

Lula disse que o resultado da Prova Brasil, aplicada nos estudantes de 4ª e 8ª séries, "não é animador". E lançou um desafio aos educadores - encontrar solução para o ensino brasileiro:

- Quero que vocês se debrucem sobre isso. Talvez, de todos aqui, eu seja o menos qualificado para discutir educação. Estou apenas representando uma demanda de que sinto necessidade, mas quem dará a resposta, certamente, serão vocês, não eu.

Lula afirmou ter mandado convidar para a reunião ex-ministros da educação, como Paulo Renato (PSDB-SP), Cristovam Buarque (PDT-DF) e Murílio Hingel. Disse que, por mais inteligente que o ministro Fernando Haddad seja, não tem condições de resolver os problemas sozinho. Segundo Lula, há hoje no país 3 milhões de jovens de 15 a 24 anos que não concluíram a escola e estão nas ruas.

- Quando acontecem as exceções que levam os jovens a cometer barbaridades, a primeira atitude é alguém pedir: "Vamos diminuir a maioridade penal". Então, em vez de assumirmos a responsabilidade e tentarmos encontrar uma solução, vamos puni-los? A maioria são jovens pobres, que querem acertar na vida. E qual é a oportunidade que estamos oferecendo?

Lula disse ainda não estar satisfeito com a alfabetização, pois ainda há no país "um exército de pessoas analfabetas".

Algumas das medidas incluídas no pacote dependem de aprovação do Congresso.