Título: É uma montagem pela negociação partidária
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Fonte: O Globo, 16/03/2007, O País, p. 5

Para especialistas, faltam na nova equipe de Lula nomes de peso e com projetos para o país.

Na foto da nova equipe ministerial que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva está montando para o segundo mandato - se ela chegar a ser feita -, com algumas exceções, não se verá nomes de peso nem líderes com excelência política ou técnica em suas áreas de atuações, com uma ou outra exceção, como José Gomes Temporão na Saúde. Para especialistas ouvidos pelo GLOBO, o novo Ministério marca a falta de ousadia do governo em áreas fundamentais para o avanço do país, como a Previdência, a Agricultura e a Educação. O cientista político Emil Sobottka, da PUC do Rio Grande do Sul, classifica a reforma ministerial de medíocre:

- Com os nomes anunciados até agora, Lula mostra que quer apenas administrar os problemas do cotidiano, sem apresentar uma proposta política diferente. Na Agricultura, teremos um deputado (Odílio Balbinotti, do PMDB) que está sendo processado por falsidade ideológica. Do ponto de vista político, a pasta não deveria estar nas mãos de alguém identificado com o agronegócio e, principalmente, que trabalha com a monocultura da soja. O modelo agrícola do país tem que ser pluralista, contemplar a agricultura familiar e a produção diversificada. Essa pessoa é ideal?

Para o historiador Francisco Carlos Teixeira, da UFRJ, é preciso ter no Ministério "homens de visão, com grandes projetos" e não nomes do jogo partidário.

- A característica da reforma ministerial, até aqui, foi a montagem da equipe pela via da negociação partidária, não pela excelência dos quadros. Na Educação, por exemplo, falta um nome como Darcy Ribeiro, Anísio Teixeira, alguém com um projeto para o país. O Haddad (Fernando Haddad, atual ministro) poderia até ficar, mas num cargo técnico. Isso é grave na Educação, é grave na Agricultura. Precisamos de grandes gestores, pessoas com respeitabilidade, que possam liderar um processo de mudança no país.

José Gomes Temporão, para os especialistas, é uma exceção. Com experiência em gestão e um técnico conceituado na Saúde, ele seria uma das poucas novidades do segundo mandato.

- Não à toa, no jogo partidário em vigor, o presidente teve dificuldades para impor o seu nome - lembra Teixeira. Já o sociólogo Luiz Werneck Vianna, do Iuperj, considera que a segunda equipe de Lula não difere muito da primeira. Ele vê vantagens no fato de Haddad ficar e na nomeação de Carlos Lupi, do PDT, para a Previdência.

- A Dilma fica, Haddad fica, Mantega mantém a linha do Palocci. Na Previdência, com Lupi, não vai ter reforma, mas o país não tem condições de alterar um pacto dessa natureza, com a repercussão social e política que teria. Não é um ministério ruim, mas não se pode dizer que é o melhor do mundo.

Sobottka e Teixeira discordam da opção por Lupi.

- É claro que precisamos de uma reforma na Previdência - diz o professor da PUC-RS.