Título: A PF tem que investigar qualquer suspeita
Autor: Guedes, Ciça
Fonte: O Globo, 16/03/2007, O País, p. 8

Um dia antes de trocar de função, novo ministro da Justiça diz que pasta não sofrerá ingerência.

Um dia antes de trocar oficialmente a função da articulação política pelo Ministério da Justiça, o ministro Tarso Genro afirmou ser contra a antecipação da maioridade penal e anunciou que pretende reforçar mecanismos de combate à lavagem de dinheiro. Tarso disse que a Polícia Federal atuará sem ingerência política. Ele considerou que que a coalizão de governo será testada, mas disse que nenhum partido pode dizer já que tem um candidato para 2010.

Cristiane Jungblut

Ao deixar a articulação política, que balanço o senhor faz da coalizão e da reforma ministerial?

TARSO GENRO: A coalizão está dando indícios constantes de que está dando certo. Mas será testada, na verdade, ao longo deste ano. A valorização dos partidos ajuda na formação de uma consciência da necessidade de uma reforma política.

Nesse raciocínio, o senhor diria que o candidato de 2010 pode não sair do PT, pode ser da coalizão?

TARSO: Não quero dizer que possa sair ou não possa sair (do PT). Só quero dizer que, formada uma coalizão, ninguém tem o direito prévio de dizer que tem um futuro candidato, seja para governo estadual ou federal.

O senhor presidiu o PT num momento de crise, quando houve investigações da PF envolvendo petistas. Se houver necessidade de investigar novamente o PT e partidos, qual será seu comportamento e o da PF?

TARSO: A PF tem que investigar qualquer suspeita de delito, de qualquer pessoa, de qualquer partido, ou instituição, sem qualquer limite que não seja o da lei. A PF não é comandada pelo ministro da Justiça e sim por quem a chefia, dentro de uma rígida legalidade e de pressupostos constitucionais muito claros. O que ele (o ministro) não pode é ser partidário e não pode tratar o interesse público segundo uma visão estrita do seu partido, tem que ter função republicana.

Como vê a atuação da PF?

TARSO: É uma polícia de alta eficiência e de elevado grau de republicanismo. Será respeitada e promovida em tudo que eu puder. O (Paulo) Lacerda, a pedido meu e do ministro Márcio Thomaz Bastos, vai permanecer, no mínimo, por mais 90 dias. Isso para que a gente possa, se ele quiser sair efetivamente, fazer uma transição. Se ele mantiver sua vontade de sair, colocaremos uma pessoa com a mesma estatura política.

O senhor é contra a antecipação da maioridade penal?

TARSO: Sou contra, particularmente, e manifestaria essa mesma opinião como sendo a do governo, mesmo que fosse contra. Abordar essa questão, induzindo que isso é uma solução para a violência e para o crime, é um equívoco muito grande.

As propostas do governo sobre uma legislação antiterror já estão prontas?

TARSO: Vou examinar essa legislação com cuidado. Os países têm que atualizar sua legislação chamada de antiterror, para separar aquilo que é violência da política e da democracia.

E sobre a lei de combate ao crime de lavagem de dinheiro? O senhor pretende reforçar?

TARSO: Sim, vamos aguardar orientação do presidente para reforçar todos os mecanismos de repressão aos chamados crimes globalizados. O Brasil tem muito que andar ainda.

E como vai atuar na questão da violência?

TARSO: O governo federal não é dono da segurança pública. Temos a convicção de que a nova safra de governadores está profundamente preocupada. Houve um acordo, que não vamos contingenciar os recursos de segurança, se eles não contingenciarem os deles. A questão da criminalidade é caso de eficiência policial, de qualidade técnica, mas tem uma dimensão sobre a qual vamos trabalhar: é propor um programa de integração das políticas de segurança com as políticas sociais. O foco é essa juventude em situação de risco social.