Título: Novo ministro da Agricultura teria usado 'laranja'
Autor: Gripp, Alan e Damé, Luiza
Fonte: O Globo, 16/03/2007, O País, p. 9

MUDANÇA NO TIME: Escolhido responde a inquérito por crimes de falsidade ideológica e falsificação de documentos.

Peemedebista Odílio Balbinotti, que é réu no Supremo, foi recebido por Lula mas teve a posse no ministério adiada.

BRASÍLIA. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva conheceu pessoalmente, ontem, o deputado Odílio Balbinotti (PMDB-PR), indicado anteontem para o Ministério da Agricultura, e o confirmou para o cargo, mas sua posse só acontecerá na semana que vem. A explicação oficial é que o atual titular da pasta, Luiz Carlos Guedes, está no exterior e só volta semana que vem. Até lá, Balbinotti tentará convencer Lula e os colegas de que é inocente das acusações que lhe são feitas. Ele responde a um processo no Supremo Tribunal Federal por falsidade ideológica.

O novo ministro da Agricultura é processado por supostamente ter utilizado como laranja um ex-funcionário de sua fazenda de 12 mil hectares, no município de Alto Garça, sul de Mato Grosso. Segundo fontes ligadas à investigação, Balbinotti teria utilizado o nome do empregado (não divulgado), sem o seu consentimento, num contrato de renegociação de uma dívida com o Banco do Brasil, fruto de um empréstimo agrícola contraído por sua empresa de produção de sementes de soja, em 1996. Balbinotti nega a acusação.

Prefeito amigo diz que terras eram dadas a funcionários

Hoje, por ter foro privilegiado, ele responde a um inquérito no STF pelos crimes de falsidade ideológica e falsificação de documentos. A investigação corre em segredo de Justiça, mas o seu teor foi confirmado ao GLOBO pelo prefeito de Alto Garça, Cezalpino Mendes Teixeira Junior (PFL), amigo do deputado.

O deputado é suspeito de ter usado o nome de funcionários para modificar a constituição societária de sua empresa e aumentar a capacidade de refinanciamento da dívida. As regras do empréstimo agrícola estabelecem limites, por produtor, para a rolagem de débitos. O prefeito da Alto Garça, que sustenta a inocência do amigo, disse que os documentos não foram forjados. Segundo ele, parte das terras de Balbinotti foram dadas a funcionários que se destacavam como uma espécie de bônus.

- Ele dava uma porcentagem no lucro, era uma coisa normal, uma parceria sadia. Hoje, os agricultores trabalham com isso aí. Eram funcionários qualificados, gerente, técnico agrícola - contou o prefeito.

Segundo ele, a investigação teve início após a denúncia de um ex-funcionário, que se desligou da empresa e retornou para sua cidade natal, Barboza Ferraz, no Paraná, da qual Balbinotti foi prefeito duas vezes - de 1977 a 1983 e de 1989 a 1993. O empregado teria sido levado para Mato Grosso pelo próprio Balbinotti, para trabalhar nas plantações de soja.

- O funcionário deixou de trabalhar com ele e voltou para o Paraná. Depois de muito tempo, foi ao banco financiar um carro e constava o nome dele como devedor daquela dívida. O cara se assustou, foi lá e deu a queixa. A polícia levantou o negócio e ele foi chamado para depor. Isso nasceu por aí.

O prefeito, que disse ter arrendado dez mil hectares de terra a Balbinotti, defendeu o amigo. Afirmou que a dívida com o Banco do Brasil, que segundo ele girava em torno de "200, 330 mil reais", foi toda paga. E que o funcionário que o acusou, desfez a "confusão" em depoimento:

- Todas as pessoas que não sabiam depois se retrataram com ele, mas, como era ação pública, depois que foi lançada não pode tirar. Ele é hoje o maior produtor de sementes do mundo. É um cara limpo. Querer manchar seu nome por causa de um negócio desses é injustiça.

Em nota, o advogado do deputado, Aristides Junqueira, afirmou que o suposto crime pelo qual ele é acusado aconteceu em 1996, mas não deu detalhes do inquérito. Disse ainda que, neste período, Balbinotti já era deputado e que, por isso, estava afastado sua empresa, administrada por procuradores nomeados por ele. "O deputado já prestou esclarecimentos à Polícia Federal a aguarda, com tranqüilidade, o resultado das apurações", diz um trecho da nota.

Tarso, Geddel e Temporão tomam posse hoje

Antes das apresentações formais a Lula, o presidente do PMDB, Michel Temer, preocupado com as denúncias envolvendo Balbinotti, chamou-o para um encontro pela manhã. Temer cobrou explicações e falou com Junqueira, por telefone. Temer, então, foi ao Planalto apresentar Balbinotti a Lula, antes da reunião do Conselho Político.

- O presidente disse que cada vez que escolhe um ministro é sempre um bombardeio, que é mesmo assim - contou Temer.

Sobre a situação de Balbinotti, perguntado se Lula poderia voltar atrás, um interlocutor disse que não há intenção de rever a indicação, mas salientou que não haveria constrangimento em fazer isso, se necessário.

Tomam posse hoje Tarso Genro (PT), na Justiça, em substituição a Márcio Thomaz Bastos; José Gomes Temporão (PMDB), na Saúde, no lugar de Agenor Álvares, e Geddel Vieira Lima (PMDB), que entra na vaga de Pedro Brito.

COLABORARAM: Cristiane Jungblut e Chico de Gois