Título: Para Lula, ministros ganham pouco: 'São heróis'
Autor: Damé, Luiza
Fonte: O Globo, 17/03/2007, O País, p. 10

"Quem entra percebe que, muitas vezes, é mais difícil (no setor público), e o salário é muito baixo".

Presidente dá "pepino da Saúde" a Temporão, faz o antecessor chorar e diz que Geddel na Integração é prova da coalizão.

BRASÍLIA. Numa cerimônia marcada por elogios, gracejos e choro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu posse ontem aos ministros da Justiça (Tarso Genro), da Integração Nacional (Geddel Vieira Lima) e da Saúde (José Gomes Temporão), alertando-os de que não terão vida fácil. Lula disse que há muito trabalho, os salários são baixos, e os ministros estão sob a mira da imprensa. Para ele, os que aceitam o cargo para ganhar entre R$7 mil e R$8 mil são heróis.

- Quando fico vendo os ministros, que ganhavam muito bem, virem ganhar R$7 mil, R$8 mil, eu falo: esses são heróis. Alguns pagam para ser ministro. E eu digo isso de cátedra, porque digo sempre: sou o único que não posso reclamar do meu salário de R$8 mil, porque não tem nenhum torneiro mecânico no Brasil ganhando R$8 mil por mês. Então, eu ainda continuo sendo o torneiro mecânico mais bem pago - disse. - Aos que entram, se pensam que é moleza ser ministro, vão ver que, muitas vezes, o que não aparecia na imprensa começa a aparecer. Vão perceber que, muitas vezes, é mais difícil (no setor público), e o salário é muito baixo. Quem é deputado ainda vem com um salário um pouquinho maior. Sou o único presidente da República que tem um ministro de 8 (mil reais) e um de 12.

Lula se referiu à possibilidade de os parlamentares optarem pelos subsídios do Congresso. Os deputados recebem R$12,8 mil, e os senadores, R$12,7 mil, enquanto os vencimentos de ministro são de R$8.362. Segundo Lula, os salários do poder público empurram os bons profissionais para a iniciativa privada.

Ao falar do novo ministro da Saúde, Lula brincou:

- Disseram que eu estava escolhendo o grande cara. Pois bem, agora chegou a hora. Se, na teoria, você parecia tudo isso, agora vamos dar o pepino da Saúde para você administrar.

Para Lula, a posse dos novos ministros marca um novo jeito de fazer política:

- O companheiro Geddel é o exemplo mais forte dessa coalizão e a demonstração inequívoca de que, quando falamos em coalizão, falamos para valer, porque, se a gente fosse analisar apenas o que as pessoas fizeram ontem, sem pensar no que vão fazer amanhã, não teria acordo em muitas das coisas que a gente faz com os partidos.

Os primeiros agradecimentos foram para Márcio Thomaz Bastos. Lula disse que o ministro já o defendeu gratuitamente, quando sindicalista, e deve se preparar para continuar defendendo-o depois do governo e de graça.

- Todos nós, que militamos na política, sabemos o que representou a presença de uma cabeça equilibrada como a do Márcio no Ministério da Justiça. Acho que o Brasil é grato por um dia você ter aceitado ser ministro.

Ao novo ministro da Justiça, Lula limitou-se a dizer:

- Toda a sorte do mundo, meu querido, o jogo é duro.

Lula fez chorar o ministro da Saúde, Agenor Álvares, que passa o cargo para Temporão segunda-feira. Ao elogiá-lo, citou craques de futebol, como Garrincha, Didi, Zico e Nunes. O ministro chorava copiosamente. A Pedro Brito, que deixou a Integração Nacional, Lula sinalizou que ele pode ficar no governo.

- O companheiro é daquelas figuras técnicas de que o Estado não pode prescindir.