Título: Especialistas aprovam medidas para educação
Autor: Weber, Demétrio
Fonte: O Globo, 17/03/2007, O País, p. 14

Educadores elogiam pacote, destacam a ênfase no ensino básico, mas temem falta de recursos

SÃO PAULO e RIO. O pacote de medidas para a educação lançado ontem pelo presidente Lula agradou a educadores e estudiosos da área, com algumas ressalvas, entre as quais a quantidade e a forma de gerência dos recursos a serem aplicados.

- Não se faz política social sem dinheiro. É preciso sair do discurso para a prática. O plano é bom, mas se os recursos para a educação já não são suficientes hoje, também não são para atender às diversas etapas do plano - diz o professor Éfren de Aguiar Maranhão, membro da Academia Brasileira de Educação.

Ele considera que o plano tem um conjunto audacioso de metas. Entre os destaques, a Provinha Brasil.

- Fizemos algo parecido em Pernambuco. É ótima idéia avaliar crianças de 6 a 8 anos. Destaco ainda a importância da capacitação, da motivação e da valorização do professor.

Crítica da política educacional do governo Lula, a secretária de Educação do Distrito Federal, Maria Helena Guimarães Castro, presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais no governo Fernando Henrique(PSDB), elogiou:

- Vincular indicadores e avaliação com incentivos aos municípios é um passo à frente. Achei excelente.

Maria Helena critica a gestão dos sistemas de ensino e das escolas que, para ela, sofrem influência política na indicação de diretores.

O sociólogo Simon Schwartzman, do Instituto de Estudos de Trabalho e Sociedade (Iets), também crítico do governo Lula, gostou do plano:

- Tem novidades importantes, como a ênfase na alfabetização, associada a incentivo ao desempenho das escolas e a provinha. O sistema de Bolsa Família para jovens de 15 a 17 anos pode fazer diferença.

Já para Regina de Assis, ex-conselheira Nacional de Educação, a possível valorização de políticas assistencialistas, como classificou o Bolsa Família, para os jovens é uma preocupação.

- Antes tarde do que nunca. Foram quatro anos e três ministros para o governo federal assumir sua responsabilidade. Não se deve, no entanto, valorizar extremamente medidas assistencialistas. É bem-vindo numa primeira etapa, mas deve-se criar um plano de entrada e de saída.

Ela ressaltou a ênfase na avaliação, mas acha que só funcionará com a valorização do professor:

- O professor do ensino básico tem que ter graduação em pedagogia. É preciso acabar de vez com a formação pelo curso Normal, como está previsto e ainda não ocorreu.

O coordenador-geral de uma das principais organizações não-governamentais da área da educação, Sérgio Haddad, da Ação Educativa, chamou a atenção para uma dúvida sobre o plano. Segundo ele, não há garantias de que as conferências previstas, que permitiriam a participação da comunidade escolar e da sociedade na escola, sejam suficientes para afastar o "conservadorismo que tem dominado" a área:

- A educação não teve, nos últimos anos a mobilização social que tem, por exemplo, a saúde, com conselhos participativos. A educação vai enfrentar dificuldades para implantar essas conferências.

Ele considerou que o plano tem vários pontos positivos, a começar pela perspectiva dada pelo governo federal de uma presença forte na educação básica.

- É positivo o sistema nacional estar centrado na educação básica, porque antes estava centrado apenas na educação fundamental.

O reitor da UniCarioca, professor Celso Niskier, classificou o plano como uma iniciativa importante, com um conjunto de ações desde a educação infantil até o ensino superior:

- Acredito que a facilitação ao financiamento estudantil vai permitir que um número maior de pessoas chegue à faculdade. Não adianta lançar PACs sem investimento no ensino. Não adianta aceleração do crescimento econômico sem capacitação humana.