Título: Para BID, Bolsa Família é bom mas insuficiente
Autor: Passos, José Meirelles
Fonte: O Globo, 17/03/2007, Economia, p. 38

Segundo banco, programa não garante inclusão social porque muitos ficam na informalidade.

CIDADE DA GUATEMALA. Programas de combate à pobreza implantados na América Latina, como o Bolsa Família, conseguirão erradicá-la em vários países ao longo dos próximos dez anos. No entanto, tais iniciativas serão incapazes de garantir a inclusão social de milhões de pessoas - fazendo perpetuar os altos índices de desigualdade - caso os governos deixem de cuidar de uma segunda e decisiva etapa: uma política de criação de empregos.

Essa foi a conclusão básica do seminário "Crescimento econômico com inclusão social", que abriu ontem a reunião anual do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), nesta capital centro-americana. Segundo os especialistas convidados a debater o tema, o combate à fome e à pobreza, no fundo, não é uma questão social, como imaginam muitos governos, e sim econômica.

- Há uma inconsistência nas políticas públicas em nossa região. Enquanto China e Índia investem em infra-estrutura física, na capacitação de trabalhadores e no aumento da produtividade, nós estamos canalizando dinheiro quase totalmente para programas sociais que, no fundo, subsidiam e fomentam a informalidade - disse Santiago Levy, ex-diretor do Instituto Mexicano de Seguro Social. - Se insistirmos só no Bolsa Família, por exemplo, erradicaremos a pobreza sem chegar a ter inclusão social. Pois as pessoas cairão na informalidade, e, como sabemos, ela impede o crescimento da produtividade.

A verdadeira inclusão social, segundo o BID, se dará quando todas as pessoas se tornarem produtivas, quando tiverem algo que fazer na economia formal.

Por sua vez, John Mellor, especialista em desenvolvimento rural da Cornell University, alertou os governos para a necessidade de apoiar solidamente os pequenos produtores agrícolas. Segundo ele, não será possível acabar com a pobreza na zona rural -? onde ela é maior - sem o crescimento da produção dos pequenos proprietários.

Durante a reunião anual do BID, representante do governo de Pequim assinará um memorando de entendimentos com o banco para que a China torne-se um financiador. O documento é uma prévia para a entrada formal da China como acionista do banco, juntando-se aos outros 18 países sócios que não fazem parte da América Latina. Até aqui o governo chinês vinha encontrando resistência dos EUA e do Japão.