Título: O novo coordenador
Autor: Cruvinel, Tereza
Fonte: O Globo, 18/03/2007, O Globo, p. 2

Com a reforma ministerial quase concluída, a escolha do ministro Walfrido dos Mares Guia para a coordenação política é bastante reveladora da natureza mais pluralista do segundo mandato de Lula, bem como do tipo de gestão política que ele deseja, escaldado que foi pelas turbulências do primeiro. Foi a preferência dos demais partidos por Mares Guia que levou Lula a optar por ele, abortando o movimento do PT para ficar com o cargo.

A ofensiva, desencadeada no início da semana passada, teve como pretexto o fato de não haver um só petista entre os três novos líderes congressuais do governo. Mas decorria mesmo era do receio, quase certeza, de que Marta Suplicy ficaria fora do Ministério, depois do sereno em que foi deixada por Lula. E, como ele não dispunha de um nome para o lugar de Luiz Fernando Furlan no Desenvolvimento, Indústria e Comércio, cogitou de entregar a pasta a Mares Guia, que, consultado, respondeu em seu estilo "pau para toda obra": o presidente querendo, topava. Dois petistas - o ex-governador Jorge Viana e o ex-líder Henrique Fontana - foram, então, cogitados para o lugar de Tarso Genro em Relações Institucionais. Mas entre quinta e sexta-feira, ao longo de conversas com líderes de diferentes partidos aliados, Lula constatou a ampla preferência pelo nome do ministro do Turismo. Chamou-o para almoçar e bateram o martelo. Marta Suplicy foi então chamada para a conversa de amanhã, e deve aceitar Turismo. Começou querendo muito, mas agora aceitará de bom grado. A pasta não é um trampolim para candidatos a presidente, embora seu titular e criador diga que só tem agenda positiva. Quem terá de esperar um pouco mais é Furlan. Lula examina alguns nomes da área empresarial, mas pode levar mais tempo nisso.

Colocando um não-petista como gestor político, Lula indica ao PT o fim da hegemonia no governo. Com um conciliador, tenta evitar a brigalhada entre aliados que fermentou a crise de 2005. O próprio Mares Guia atribui à sua atuação um forte caráter preventivo na relação com o Congresso, embora vá ser também encarregado das relações federativas (governadores e prefeitos) e das articulações com a sociedade, através do CDES. Mas os conflitos de interesses na vasta coalizão vão eclodir e esbarrar com freqüência no PT, testando, na prática, as habilidades do novo ministro. A seu favor, o fato de não ter projeto político pessoal. Dirceu e Palocci deixaram Lula escaldados, e por isso mesmo ele não dará a Marta um ministério transatlântico.

- Meu único projeto é servir o presidente, colaborar para o êxito de seu governo, para a unidade da base parlamentar e o sucesso da agenda legislativa, que tem o PAC como ponto mais importante - diz o ministro escolhido.

Contentar a base é administrar suas demandas, sobretudo pela liberação das emendas orçamentárias. Mares Guia propôs a Lula um cronograma de liberações, que não comprometa a programação fiscal do governo, mas faça valer a prerrogativa parlamentar de emendar o Orçamento. Todos os partidos, inclusive os da oposição, seriam atendidos de forma legal, equânime e transparente. É a melhor das receitas, mas talvez seja utópica. Dos ministros, quer ainda toda atenção aos parlamentares. Outra declaração de Mares Guia que fala de seu perfil é esta:

- Eu jamais terei opinião pessoal. Quando eu emitir alguma, será do governo.

Num governo polifônico, já será grande coisa.