Título: Deputados confiantes na absolvição
Autor: Galhardo, Ricardo e Freire, Flávio
Fonte: O Globo, 18/03/2007, O País, p. 4

Não perdi nenhuma noite de sono até agora", diz Melo.

SÃO PAULO. As ações que supostamente levam à cassação de mandato parecem não assustar os mais de 60 deputados que respondem a processos na Justiça Eleitoral. Sob uma nuvem de acusações que vão desde o abuso do poder econômico à formação de caixa-dois, passando ainda por fraudes em licitações e falta de recolhimento de INSS, muitos parlamentares ouvidos pelo GLOBO demonstraram confiança de que serão absolvidos, pois consideram que o erro está no "excesso de zelo", na "má-interpretação" ou mesmo em ações "legalistas ao extremo", como definiram.

- Não perdi nenhuma noite de sono até agora - disse o deputado Marcelo de Araújo Melo (PMDB-GO), acusado pela Promotoria Regional de Goiás de uso de caixa dois. Melo responde a uma ação na qual é acusado também de não recolher INSS e de usar carros e comitês eleitorais não declarados. Segundo ele, os veículos e os imóveis usados eram de candidatos estaduais que faziam dobradinha na aliança política, e que podem não ter declarado os bens:

- A responsabilidade não é minha, mas não tenho um pingo de preocupação.

No dia 1º de outubro do ano passado, dois cabos eleitorais do deputado Geraldo Pudim (PMDB-RJ) foram presos em flagrante tentando comprar votos de eleitores em Duque de Caxias. As prisões levaram a uma representação que pode resultar na cassação do segundo deputado mais votado do estado. Ao ser indagado pelo GLOBO sobre as acusações, Pudim teve um acesso de riso.

- Não é uma ação. É um monte. Um montão. Que bem vai trazer ao Brasil esse levantamento? O papel do Ministério Público é investigar. O meu é me defender. Não estou focado nisso. Quem cuida são os meus advogados - respondeu Pudim, às gargalhadas.

A sensação de que as investigações podem acabar em pizza também é compartilhada pelo deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), o Paulinho, ex-presidente da Força Sindical.

- Na verdade, nem sei a quantas ações eu respondo. Mas isso tudo é um excesso de zelo - diz ele. Para justificar sua posição, Paulinho lembra que o MP o acusa de pagar pesquisa para sua campanha. - Todos sabem que deputado não pede pesquisa. É importante fiscalizar, mas devem perceber quando não tem malandragem.

Acusado de distribuir irregularmente boletins informativos encartados em jornal local, o deputado Sarney Filho (PV-MA) alega que publica o boletim há mais de dez anos e que a publicação não tem fins eleitorais. Rodrigo Maia (PFL-RJ) afirma que a ação contra ele já foi arquivada pelo TRE por falta de provas.

Há também quem considere as iniciativas dos procuradores regionais como uma tentativa de responder à onda de escândalos na esfera política que ocorreram nos últimos anos.

- Eu acredito que o procurador foi legalista ao extremo, talvez para dar uma resposta contra as denúncias de caixa dois que surgiram no ano passado - disse Leonardo Vilela (PSDB-GO), que rebateu ponto a ponto as quatro acusações pelas quais responde.

Ao mesmo tempo, os parlamentares alegam que cabe ao MP investigar, e, a eles, produzir provas contra as denúncias.

- Temos que dar atenção às investigações. O MP cumpre seu papel de vigilância. Se negligenciarmos, vamos perder - diz o deputado Mendes Thame (PSDB-SP). (Ricardo Galhardo e Flávio Freire)