Título: Situação no Rio melhora, mas ainda preocupa
Autor: Menezes, Maiá
Fonte: O Globo, 18/03/2007, O País, p. 9

Nos outros estados, fiscais ainda flagram irregularidades no setor

A realidade do Norte Fluminense mostra o avanço da luta do Brasil contra o passado escravocrata da cultura da cana-de-açúcar. A Delegacia Regional do Trabalho, que, em 2003, encontrou, em uma das ações, 491 trabalhadores em situação "análoga à escravidão" (em alojamentos precários e com carteiras de trabalho retidas pelos empregadores) em uma das 15 usinas da região, hoje atribui ao rigor da fiscalização a mudança de comportamento da maior parte dos usineiros.

- Não podemos relaxar. A fiscalização tem que ser permanente. Mas é fato que a realidade hoje é diferente da que encontramos em 2003 - afirma Márcio Guerra, coordenador de fiscalização do estado.

O quadro, no entanto, ainda preocupa: de 2003 até o ano passado, foram encontrados 10.300 trabalhadores sem carteira assinada nas fiscalizações feitas pela DRT fluminense no Norte do estado.

A coordenadora do Comitê de Combate ao Trabalho Escravo e Degradante do Norte e Noroeste Fluminense, Carolina Abreu, estima que haja três mil migrantes na região, no período de safra. Ao todo, 12 mil trabalhadores participam do corte, no período de alta safra.

- O maior problema que temos é o de migrantes. Depois que acaba a safra, eles ficam nas favelas. Temos um índice alto de alcoolismo entre os cortadores - disse Carolina.

O procurador do Trabalho Gustavo Ricardo Rizzo concorda com o efeito pedagógico das fiscalizações. Ele afirma que o comportamento dos usineiros mudou depois das punições:

- A nossa intenção não é quebrar as empresas. É educar e fazer com que não sejam reincidentes - afirma o procurador, que pediu à Justiça multa de R$5 milhões à usina que foi flagrada com os 1.003 trabalhadores em situação degradante, em 2005.

Fiscais ainda encontram situações degradantes

Em Goiás, o fantasma do passado ainda incomoda: no dia 15 de fevereiro, 49 trabalhadores foram encontrados vivendo em situação degradante, no município de São Luís do Norte, a 246 quilômetros de Goiânia, em uma fazenda de colheita de cana-de-açucar. Os fiscais da DRT de Goiás encontraram trabalhadores dormindo no chão, em local sujo e mal-cheiroso.

Uma das maiores apreensões do país, em agosto de 2005, fiscais e agentes da Polícia Federal encontraram 2.400 trabalhadores em situação semelhante, em uma usina, no Espírito Santo. Ainda em grau de recurso, foi aplicado R$1 milhão em multas.