Título: Especialistas temem seqüelas ambientais
Autor: Aggege, Soraya e Menezes, Maiá
Fonte: O Globo, 18/03/2007, O País, p. 10

Vantagens do combustível não evitam preocupação com os efeitos do processo de produção.

Etanol é um combustível limpo, mas o possível aumento de queimadas e da monocultura preocupa estudiosos.

JABOTICABAL (SP) E RIO. Considerado um combustível limpo, o etanol ainda enfrenta restrições de ambientalistas quanto a seu processo de produção. Estudos internacionais, como da WWF (Word Wildlife Fund), revelam os impactos ambientais dos canaviais, em especial com as queimadas, na época da colheita da cana.

O professor de engenharia e pesquisador da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar) Francisco Alves avalia que o ciclo do etanol criará um cenário assustador entre 2007, 2013 e 2025, no mesmo ritmo dos novos investimentos.

- Será uma expansão grande da monocultura. Os canaviais aumentarão nas regiões onde já estão, como São Paulo, Triângulo Mineiro, Goiás e Mato Grosso do Sul. No segundo momento, para consolidar a previsão de produzirem 104,5 bilhões de litros de álcool, a cana ocupará as áreas onde está a soja, o Cerrado e a Amazônia, em 17 milhões de hectares. A soja, por sua vez, expulsará o gado, que invadirá as áreas de florestas. Sai a madeira, entra o gado, e depois vem a agricultura. No Brasil, é a forma como a terra é barateada e como as áreas de florestas vão se extinguindo - afirma Alves.

Um dos estudos de Alves mostra aspectos negativos da cana. Os principais são: o fim da diversidade de espécies, a alta taxa de resíduos como o vinhoto, cujos efeitos são lesivos para os rios, o fim das reservas legais de matas e mananciais e os efeitos da queima para a saúde humana, além da fuligem no ar, que suja as cidades.

- Para cada litro de álcool produzido são gerados 12 litros de vinhoto, muito rico em material orgânico e que acaba sendo destinado à fertilização da planta. Mas o fato é que esse vinhoto é excessivo e já tem destruído lençol freático e aqüíferos. Faltam pesquisas que mostrem a quantidade suportável de lançamento do vinhoto - afirma.

Coordenador de Direito à Alimentação da ActionAid no Brasil, Celso Marcatto ressalta a importância no incremento de produção de um combustível que emita menos gases poluentes na atmosfera - principal atrativo do etanol no mercado internacional, de acordo com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Mas afirma que é preciso evitar que o país se transforme numa concentração de monoculturas (soja, eucalipto e cana-de-açúcar), chamadas de desertos verdes. Ele se preocupa com a tendência de que a produção de etanol acabe removendo agriculturas tradicionais do país.

- A monocultura, por si só, já é destrutiva. A tendência é que o crescimento se dê no que eles (usineiros) chamam de pastagem degradada. Para os ambientalistas, no entanto, essa é uma área de regeneração de floresta. O etanol, que é limpo em sua emissão, precisa ser limpo também em sua produção - disse Marcatto.