Título: Temer checa reputação de nomes para ministério
Autor: Gois, Chico de
Fonte: O Globo, 19/03/2007, O País, p. 5

Antes de apresentar lista de candidatos ao presidente Lula, peemedebista perguntou a colegas se eles têm ficha limpa

BRASÍLIA. O PMDB se reúne hoje com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva para discutir a escolha do novo titular do Ministério da Agricultura. O deputado Odílio Balbinotti (PR), indicado na quarta-feira, desistiu de tomar posse depois que O GLOBO revelou que ele usou laranjas para garantir empréstimos bancários. Para tentar evitar mais constrangimentos a Lula e ao próprio partido, o presidente do PMDB, Michel Temer, fez uma consulta informal aos cinco nomes que levou ao presidente da República semana passada. Temer queria saber se há algo que comprometa suas reputações, como ocorreu com Balbinotti.

- Perguntamos a eles se há algum problema, para que não sejamos surpreendidos, e todos disseram que está tudo em ordem - disse Michel Temer, que procurou se desvincular da escolha de Balbinotti.

- Ele (Balbinotti) foi escolhido pelo presidente, que disse ter tido boas referências dele por meio dos governadores Blairo Maggi (PR-MT) e Roberto Requião (PMDB-PR), além do ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues - afirmou Temer, que se declarou surpreso com as suspeitas de irregularidades contra Balbinotti.

Zeca do PT se opõe à nomeação de Moka

A lista apresentada a Lula era composta por cinco nomes, incluindo Balbinotti. Com a desistência do deputado paranaense, estão no páreo Waldemir Moka (MS), Tadeu Filipelli (DF), Eunício Oliveira (CE), Fernando Diniz (MG) e Reinhold Stephanes (PR) - este último não estava na relação original e entrou na disputa no lugar de Balbinotti.

No sábado, O GLOBO publicou documento no qual um ex-funcionário de Balbinotti, que ganhava R$1 mil, apareceu com uma dívida de R$1,7 milhão. Outros dois ex-funcionários do deputado fazem acusação semelhante.

Na tarde de sábado, Balbinotti enviou carta a Temer e ao líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), na qual pedia que comunicassem sua desistência a Lula. Temer, então, ligou para o novo ministro da Justiça, Tarso Genro, que sexta-feira deixara a pasta das Relações Institucionais. Coube a Tarso informar a Lula que ele teria de escolher outro nome.

Do novo quinteto peemedebista apresentado a Lula como indicação da bancada na Câmara, os que mais têm chances de obter a vaga são Moka e Filipelli. O primeiro, no entanto, tem forte oposição de um amigo particular do presidente, o ex-governador Zeca do PT, que esteve ontem com Lula na Granja do Torto. Filipelli é afilhado político do hoje senador Joaquim Roriz, nome influente no PMDB.

A bancada do PMDB, porém, gosta de Moka, porque o identifica com o setor agrícola. Lula resiste à indicação porque o deputado fez campanha para Geraldo Alckmin (PSDB) e sempre foi seu opositor.

- Acho que não há possibilidade de veto - disse Temer. - O presidente já disse que o passado deve ficar no passado.

Temer não era o preferido de Lula para presidir o PMDB, mas o presidente acabou se rendendo aos fatos e agora tem nele um parceiro. Lula também nomeou, para a Integração Nacional, Geddel Vieira Lima (PMDB-BA), um ex-ferrenho opositor.

Marta deve aceitar hoje o Ministério do Turismo

Na reunião de hoje, o novo ministro das Relações Institucionais, Walfrido dos Mares Guia, escolhido por Lula na sexta-feira para ocupar a vaga de Tarso, não deverá participar. Walfrido já havia marcado uma reunião, em São Paulo, com o embaixador dos Estados Unidos, Clifford Sobel, para tratar da ampliação dos vôos entre os dois países.

Hoje, Lula deve formalizar o convite à ex-prefeita de São Paulo Marta Suplicy para que ela assuma o Ministério do Turismo no lugar de Walfrido. A audiência está marcada para o meio-dia. Marta irá aceitar a função, embora tivesse interesse em pastas com mais visibilidade político-eleitoral, como Cidades ou Educação.

Lula também pretende fazer mudanças profundas no sistema energético estatal. O governo estuda a fusão de Furnas, Chesf (Companhia Hidrelétrica do São Francisco) e Eletronorte, que se transformariam em ativos da Eletrobrás - que passaria a ser uma espécie de Petrobras da energia. A novidade, segundo o colunista Ancelmo Gois informou no último sábado, é que Lula teria convidado o economista e ex-deputado Delfim Netto para administrar esse processo. Delfim teria recusado o convite.

COLABOROU Ilimar Franco

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