Título: Banqueiros internacionais não estão convencidos da eficácia do PAC
Autor: Passos, José Meirelles
Fonte: O Globo, 19/03/2007, Economia, p. 16

Para eles, programa desestimula investimento privado ao não cortar impostos

CIDADE DA GUATEMALA. Os maiores bancos privados do mundo ainda não estão convencidos de que o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), anunciado em janeiro pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, dará os resultados esperados. Segundo eles, é improvável que a iniciativa reforce o potencial de crescimento do país, por não "estabelecer as bases para uma ampla expansão do investimento privado".

Essa avaliação foi apresentada ontem pelo Institute of International Finance (IIF), entidade que reúne as 375 instituições financeiras mais importantes do mundo, durante o Forum Econômico Latino-Americano, realizado em paralelo à reunião anual do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), na Cidade da Guatemala.

Estudo feito pelos banqueiros ressalta que o PAC não reduz o peso dos impostos, o que seria "uma limitação básica para o aumento do investimento privado, e, além disso, falha ao não enveredar por um caminho que melhore a flexibilidade do orçamento, caracterizado por altos níveis de rendimentos com destino preestabelecido e gastos não opcionais".

-- As reformas fundamentais necessárias para se alcançar um crescimento sustentável mais alto, com estabilidade macroeconômica, continuam não sendo encaradas pelo governo - disse Charles Dallara, diretor-gerente do IIF.

O documento divulgado por ele dizia ainda que, na ausência de reformas fiscais que reduzam significativamente "o forte peso tributário do Brasil sobre o setor privado", é mais provável que o PAC "enfraqueça o equilíbrio fiscal e não consiga atingir a meta de aumentar o crescimento econômico".

Pelo cálculo dos banqueiros, o Brasil crescerá este ano 3,8%, e um pouco menos - 3,5% - em 2008. Presente à reunião, o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo Silva, discordou. Ele disse que o governo prevê um crescimento de 4,5% para 2007 e de 5% para 2008. Segundo ele, a estimativa do IIF foi realizada antes de surgirem indícios de que a atual safra agrícola será maior que a anterior, de que houve uma melhoria nos preços e na demanda, além de a inflação estar totalmente sob controle.

- Nós vivemos um momento excepcionalmente positivo em nossa economia. Só o setor do etanol está com 200 novas usinas projetadas - disse ele.

Segundo o IIF, a América Latina atrairá este ano, como em 2006, nada mais do que o equivalente a 9% dos investimentos líquidos feitos nos países em desenvolvimento, totalizando US$49 bilhões. O Brasil receberia US$25 bilhões. Uma ajuda extra virá na forma de remessas feitas por trabalhadores brasileiros que emigraram para EUA e Japão. Eles deverão enviar cerca de US$7,4 bilhões em 2007. O volume total desses envios para a América Latina seria de US$72 bilhões.