Título: Preso no Rio ex-extremista italiano
Autor: Werneck, Antonio e Kuck, Denis
Fonte: O Globo, 19/03/2007, O Mundo, p. 19

Cesare Battisti, ligado às Brigadas Vermelhas, é detido em Copacabana. Governo da Itália comemora.

Um ex-ativista de extrema-esquerda italiano procurado pela Justiça de seu país foi preso ontem no Rio. Cesare Battisti, de 52 anos, foi capturado na rua, em Copacabana, no momento em que se encontrava com uma mulher, que se preparava para entregar a ele 9 mil em espécie. A operação foi coordenada pela Polícia Federal, por ordem do Supremo Tribunal Federal, atendendo a um pedido de extradição do governo italiano. Em nota, o primeiro-ministro italiano, Romano Prodi, elogiou "as forças italianas que, junto às de Brasil e França, levaram à Justiça o fugitivo das Brigadas Vermelhas".

Battisti foi condenado à prisão perpétua por crimes cometidos nos anos 70, durante sua militância no grupo Proletários Armados pelo Comunismo (PAC), ligado às Brigadas Vermelhas - organização que ganhou destaque ao seqüestrar e matar o ex-premier italiano e líder democrata-cristão Aldo Moro, em 1978. Battisti participou de diversas ações armadas do PAC, incluindo quatro assassinatos, entre 1978 e 1979.

Preso em 1979, ele fugiu da cadeia dois anos depois, passando pelo México e refugiando-se na França, a partir de 1990. Protegido por uma decisão do governo socialista de François Mitterrand, que não concedia a extradição de pessoas condenadas por motivos políticos, Battisti morou no país por mais de 15 anos, trabalhando como porteiro e autor de livros de suspense. Em 1993, foi condenado à prisão perpétua na Itália, que nunca escondeu a insatisfação com a liberdade que Battisti encontrou no país vizinho.

Em 2004, porém, o governo francês concordou em conceder a extradição do ex-extremista, gerando protestos de representantes da esquerda, como o secretário do Partido Socialista, François Hollande, e filósofos como Bernard-Henri Levy. Posto em liberdade vigiada, Battisti fugiu em agosto do mesmo ano.

Uma comissão, formada por diversas entidades de esquerda, ajudava Battisti a se manter no exterior, ao mesmo tempo em que lutava contra a sua extradição.

Levado para a sede da Polícia Federal no Rio, ele deve ser transferido para Brasília até que o pedido de extradição seja formalizado pelo Supremo Tribunal Federal. O vice-diretor do escritório nacional da Interpol, Glorivan Bernardes de Oliveira, contou, em Brasília, que a operação já vinha sendo desenvolvida desde o ano passado.

Justiça italiana quer extradição rápida

O ministro da Justiça da Itália, Clemente Mastella, disse que deseja que Battisti seja enviado para a Itália o mais rapidamente possível e saudou a polícia brasileira pela prisão. O juiz italiano Pietro Forno, de Turim, expressou satisfação ao saber da captura de Battisti, considerando o ex-ativista tão perigoso hoje quanto na época em que cometeu os crimes. O senador do partido Força Itália, Maurizio Sacconi, comentou a prisão.

- É uma notícia que pode mudar a atitude compassiva em relação aos que se mancharam com crimes de sangue em nome do terrorismo.

O juiz Walter Maierovitch, especialista em crime organizado, afirmou que a decisão do STF sobre a extradição é um ponto de interrogação, mas que há grandes chances de que o pedido do governo italiano seja acatado.

O Comitê de Apoio aos Refugiados Políticos (Carp) se reuniu à noite no Rio para acompanhar o processo de extradição de Battisti pelo Supremo Tribunal Federal. Integrante do comitê, o deputado federal Fernando Gabeira (PV-RJ) declarou que vai liderar movimento contrário à extradição.

- Battisti é um escritor com fortes ligações na França, onde foi condecorado pelo prefeito de Paris como Cidadão Honorário. Ele nega todas as acusações. Uma delas, fala em dois assassinatos ocorridos no mesmo horário em cidades diferentes - declarou o deputado. - Não queremos que a Justiça brasileira tome uma decisão precipitada, mas que examine o caso com toda a sua complexidade.