Título: A volta dos caos
Autor: Cruvinel, Tereza
Fonte: O Globo, 20/03/2007, O Globo, p. 2

Os aeroportos entraram novamente em colapso no domingo, e ontem repetiram-se as cenas já conhecidas: atrasos generalizados, aeroportos cheios, aviões no pátio. Desta vez, até um cão sem dono entrou na pista de Congonhas para aumentar a confusão. E, com isso, o governo perde os argumentos para evitar a CPI do Apagão, ainda que a oposição tenha com ela segundas intenções.

A outra conseqüência do novo colapso, iniciado no Cindacta I, o de Brasília, diz respeito ao futuro da Infraero, órgão que o presidente Lula planejava agregar ao Ministério do Turismo para dar a Marta Suplicy uma pasta mais robusta. Quando os problemas são causados pela desordem e a desconsideração das companhias, como aconteceu no Natal, o problema é da Anac - Agência Nacional de Aviação Civil. Mas, no caso presente, o problema é de infra-estrutura aeroportuária. Segundo a versão oficial, foram os equipamentos do Cindacta I que apresentaram falhas, prejudicando o planejamento dos vôos. Os controladores podem ter se aproveitado para recolocar em pauta suas reivindicações, mas isso não muda a natureza do problema. Ontem o presidente do sindicato deles, Jorge Botelho, afirmou que a situação nos aeroportos é a mesma do ano passado. Ou seja, precária. Novos colapsos podem ocorrer a qualquer momento.

Este é então o pior dos momentos para Lula pensar em transferir a Infraero para outra pasta, tirando-a da órbita da Aeronáutica. Se ele voltar atrás, Marta pode chiar, mas o desgaste que ele colherá com a continuidade ou o agravamento desta crise aérea será bem maior.

Quanto à CPI, o governo já errou duas vezes na condução do assunto. Primeiro, não segurou seus aliados, evitando que assinassem o requerimento. Assim é que se evita CPI. Mas como a coisa já fora feita, o governo mobilizou o rolo compressor da maioria e no plenário e barrou a instalação. Errou de novo, e a reação da oposição, que vinha até mantendo o fogo baixo contra o governo, foi imediata. Entrou em obstrução, prejudicando o bom ritmo de votações que a Câmara vinha mantendo desde a posse de Arlindo Chinaglia na presidência. A Comissão de Constituição e Justiça deve manter o entendimento dos governistas. Eles têm maioria lá. Já o STF, diante deste novo colapso, terá dificuldades para dizer que não existe fato determinado a investigar, como alegaram os governistas.

Disseram eles ainda que, tendo o governo tomado providências, não se fazia mais necessária a investigação do caos aéreo. Agora se vê que, se foram tomadas, foram inócuas.

É verdade que a oposição quer aproveitar a CPI para investigar transversalmente o que não consta de seu requerimento, os custos de obras aeroportuárias feitas no primeiro mandato de Lula. Com CPIs, não basta dizer "quem não deve não teme". Prejuízo sempre haverá. Mas a mesma maioria que barrou a instalação no plenário pode ser usada pelo governo para controlar a CPI, fazendo que se mantenha nos limites da investigação proposta: sobre as causas do apagão e os meios para sair desta vergonhosa situação.