Título: 'Decifrar a esfinge do Rio', desafio de Temporão
Autor: Weber, Demétrio
Fonte: O Globo, 20/03/2007, O País, p. 3

Ministro da Saúde lista 22 propostas, entre elas o planejamento familiar.

Ao assumir o Ministério da Saúde, José Gomes Temporão disse ontem que vai fortalecer as ações de planejamento familiar no país e "decifrar a esfinge" do Rio de Janeiro, referência ao tamanho da rede pública no estado, em especial o número de hospitais federais, universidades, laboratórios e centros de pesquisa. Temporão prometeu também transformar o Sistema Único de Saúde (SUS) em motivo de orgulho para os brasileiros, a exemplo do que ocorre em outros países.

- Olha aí, Sérgio Cortes (secretário de Saúde do Rio)... (quero) contribuir para decifrar a esfinge do Rio de Janeiro, buscando estabelecer uma repactuação entre os gestores federal, estadual e dos municípios, na compreensão da saúde como parte de um projeto civilizatório tão fundamental para o povo carioca e fluminense - disse Temporão. - Não existe motivo que explique por que a qualidade da saúde no Rio é tão ruim.

Ele anunciou 22 propostas, entre elas a criação de uma política nacional de atenção à saúde dos homens, como já existe para as mulheres, e rigor no combate a fraudes no ministério.

Temporão, que até sexta-feira era secretário de Atenção à Saúde do ministério, disse que vai propor ao presidente Lula um grande programa para articular políticas públicas. Ele afirmou que a saúde da população depende muito mais do que ocorre fora dos hospitais, daí a importância de programas como o Bolsa Família e da redução da pobreza:

- Refiro-me a renda, emprego, habitação, saneamento, lazer, cultura, educação. As grandes questões da saúde pública não se resolverão apenas com o aperfeiçoamento da assistência aos doentes.

As ações de planejamento familiar farão parte de uma das diretrizes anunciadas por Temporão, que pretende fortalecer a política de direitos sexuais e reprodutivos. Nessa área, ele espera dar prioridade à atenção obstétrica, ao combate ao câncer ginecológico e às vítimas de aborto ilegal.

O ministro disse que se encontrará com o governador Sérgio Cabral (PMDB) e prefeitos fluminenses para tentar melhorar o funcionamento do SUS no estado. Temporão disse que a eleição de Cabral facilitou as relações institucionais com o governo federal.

Temporão afirmou também que o SUS é uma política de Estado, logo suprapartidário. Disse que não se submeterá à lógica de nomeações por indicação política do PMDB nos órgãos do ministério, o segundo maior orçamento da Esplanada - atrás apenas do Ministério da Previdência, que paga os benefícios do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). E deixou claro que dará a palavra final, embora esteja disposto a ouvir correligionários:

- Vou ouvir todos. Só que a decisão será minha. Por que o partido se recusaria a aceitar nomes técnicos?

A política de saúde para os homens vai combater câncer de próstata, alcoolismo, tabagismo e obesidade.

- Os homens estão mal na fotografia: têm expectativa de vida menor que as mulheres, adoecem mais e se cuidam menos - afirmou.

A gestão de recursos públicos será uma das prioridades do ministro. Ele quer criar a Escola de Governo em Saúde, em Brasília, para formar gestores. A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), a Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca, a Universidade de Brasília e Escola Nacional de Administração Pública elaborariam o projeto.

Outra meta é aumentar os recursos da pasta. Temporão aproveitou o primeiro discurso para dizer que conversará com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, sobre a regulamentação da emenda constitucional que vincula recursos à saúde. O projeto de lei está parado na Câmara, porque a área econômica resiste a fixar um percentual dos gastos federais, assim como a União e os governos estaduais têm reservas à definição de ações que poderão ser contabilizadas como despesas de saúde.

Temporão disse que o Ministério da Saúde, no segundo mandato de Lula, terá como objetivo melhorar a qualidade dos serviços de saúde, notadamente a atenção básica. Isso passa pelo reforço de programas como o Saúde da Família, em que agentes comunitários, médicos e enfermeiros vão de casa em casa, resolvendo boa parte dos problemas e contribuindo para reduzir as filas nos hospitais:

- Se você vê a fila do Souza Aguiar, 80% das pessoas não precisariam estar lá. Mas vão ao hospital porque sabem que serão atendidas.

Temporão elogiou ações do primeiro mandato de Lula, como o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), que presta socorro pelo telefone 192; a Farmácia Popular, que vende remédios a preços mais baixos; e o Brasil Sorridente, que leva atendimento odontológico à população de baixa renda. Ele elogiou a integração do Saúde da Família com as escolas, como prevê o pacote educacional do Ministério da Educação. Disse também que trabalhará em conjunto com os ministérios das Cidades e do Meio Ambiente para aumentar a oferta de saneamento básico.

O novo ministro reconheceu que as emergências dos grandes hospitais enfrentam problemas, assim como o atendimento por especialistas. A espera por uma consulta pode levar meses. Mas enfatizou que o SUS tem serviços com fama internacional, como o programa de Aids, o setor de transplantes de órgãos e o programa de vacinas.

- As pessoas que mais criticam são as que não utilizam o SUS.