Título: Depois de Balbinotti, PMDB faz interrogatório e indica quatro nomes
Autor: Lima, Maria
Fonte: O Globo, 20/03/2007, O País, p. 4

Waldemir Moka, Eunicio Oliveira e Tadeu Filippelli disputam.

Stephanes, que foi ministro de Collor e FH, era o mais cotado ontem.

BRASÍLIA. Depois da fracassada tentativa de nomear o deputado ruralista Odílio Balbinotti (PMDB-PR) como ministro da Agricultura, a cúpula do PMDB cercou-se de cuidados, ontem, ao apresentar novas sugestões ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Os dirigentes do partido levaram ao presidente quatro nomes, mas, desde cedo, já trabalhavam para que fosse escolhido o menos problemático deles: o do ex-pefelista Reinhold Stephanes (PMDB-PR), que foi ministro da Previdência nos governos de Fernando Collor e de Fernando Henrique Cardoso.

Stephanes também foi presidente do antigo INPS (hoje INSS) de 1974 a 1978, no regime militar. Em 78, elegeu-se deputado federal, pela primeira vez, pela Arena. Além da indicação de Stephanes, o presidente do PMDB, Michel Temer, e o líder do partido na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), levaram ao Planalto lista com três nomes da relação anterior: Waldemir Moka (MS), Eunicio Oliveira (CE) e Tadeu Filippelli (DF). O nome de Stephanes, incluído na lista sábado, foi recebido com críticas por alguns peemedebistas.

Lula ficou cerca de uma hora com Temer e Henrique, e disse que somente ao retornar de Goiás, hoje à noite, dará resposta ao partido. Nesse período, espera receber o resultado da investigação sobre os indicados.

- Seria útil que fizesse (a investigação). Teria a certeza absoluta que não há problema nenhum. É muito provável que tenha deixado para amanhã para fazer as verificações - afirmou Temer, admitindo que Lula adiou a decisão para não correr o risco de escolher um ministro com problemas na Justiça.

Antes de levar os nomes para o presidente, ontem à noite, Temer e Henrique fizeram reunião com os ministeriáveis, para pedir que fizessem pacto de unidade, independentemente de quem fosse escolhido. Mas, pelo discurso de Temer e de Henrique, os candidatos deixaram o encontro, à tarde, com a certeza de que o escolhido será Stephanes, cujo perfil agradou mais a Lula:

- O Blairo (Maggi, governador de Mato Grosso) colocou duas alternativas novas: o Reinhold e o Moacir Micheleto, também do Paraná. É a força do agronegócio. O Ministério da Agricultura está acertado com o Blairo desde a campanha, e o presidente quer uma solução para agradar aos dois lados, o PMDB e o governador - desabafou um dos candidatos presentes, antes do resultado do encontro com Lula.

Para evitar constrangimentos como no caso de Balbinotti - investigado pelo STF por suspeita de falsidade ideológica -, a lista foi cuidadosamente examinada por Temer, que disse ter perguntado a todos se tinham processos na Justiça.

- Todo mundo olha a minha cara e enxerga a Previdência, mas tenho um histórico no Ministério da Agricultura, onde atuei por oito anos e participei da criação da Embrapa e Incra. Claro que todo mundo que entra na lista está apto a assumir o cargo. Não acredito que minha passagem pelo governo FH atrapalhe. Sou uma pessoa muito profissional, técnica e acima de tudo muito séria - disse Stephanes, após o encontro com o líder peemedebista.

Stephanes contou que atuou por oito anos no Ministério da Agricultura, foi secretário da Agricultura do Paraná e não tem problemas com a Justiça. Mas a pressão da bancada ruralista era pela indicação de Waldemir Moka (PMDB-MS), citado em depoimento dos Vedoin na CPI dos Sanguessugas, mas sem implicação comprovada.

Eunicio Oliveira tinha contra sua indicação o fato de ser vinculado ao PMDB do Senado. Tadeu Filippelli tem a seu favor a proximidade com o senador dissidente Joaquim Roriz (PMDB-DF), o que poderia ser uma ponte para atraí-lo para o governo, mas é inimigo de morte do PT do DF. Moka tem o veto de seu adversário em Mato Grosso, o ex-governador petista Zeca do PT, e de Blairo Maggi.