Título: Rosseto rejeita convite de Lula; Marta aceita Turismo
Autor: Damé, Luiza e Lima, Maria
Fonte: O Globo, 20/03/2007, O País, p. 5

Ex-prefeita prefere não revelar planos sobre disputar as próximas eleições: "Sou uma fazedora".

Apagão aéreo fez ex-prefeita chegar atrasada: "Não tinha caos, tinha espera. Estava desagradável de esperar".

BRASÍLIA. Depois de cinco meses de expectativa, a ex-prefeita Marta Suplicy (PT-SP) foi oficialmente convidada para participar do segundo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Contra toda a pressão petista, que queria um ministério de destaque para Marta, ela assumirá, na próxima sexta-feira, o Ministério do Turismo, sem o reforço orçamentário da Infraero, como chegou a ser cogitado. A espera de Marta foi ainda mais longa devido ao apagão aéreo: o atraso nos vôos adiou por pelo menos seis horas a tão aguardada audiência com Lula, no Palácio do Planalto, ontem.

Após uma conversa de quase uma hora com Lula, a própria Marta anunciou a decisão, dizendo estar otimista e animada para a nova função:

- O presidente me convidou para ser ministra do Turismo e aceitei. Estou muito feliz.

Recusa de petista deve manter Cassel na pasta

Lula também recebeu ontem o ex-ministro do Desenvolvimento Agrário Miguel Rosseto, do PT do Rio Grande do Sul, que saiu do ministério ano passado para disputar a eleição para o Senado e não se elegeu.

O presidente o teria sondado sobre a possibilidade de voltar ao cargo, mas o gaúcho disse que prefere ficar no Sul trabalhando para sua candidatura a prefeito de Porto Alegre, no ano que vem. Depois da conversa, Rosseto ainda permaneceu no Planalto, onde esteve com a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil), também gaúcha.

O PT indicou para o Ministério do Desenvolvimento Agrário vários nomes, inclusive o do deputado baiano Walter Pinheiro. Mas Lula poderá manter o atual titular do cargo, Guilherme Cassel.

Segundo Marta, as eleições municipais e sua eventual candidatura a prefeita de São Paulo não foram discutidas na audiência com o presidente:

- Estou entrando agora no ministério. Deixa eu entrar e fazer o que tenho de fazer. Estou querendo fazer. Sou uma fazedora. O que quero é entender da área, propor ações e continuar o trabalho do Mares Guia.

Ela descartou preocupação com 2010:

- Estou de olho em fazer um bom serviço no ministério.

A audiência com Lula estava marcada para o meio-dia, mas só ocorreu às 18h30m, em razão do caos aéreo. Para ela, os problemas nos aeroportos afetam o número de turistas que visitam o país, assim como a falência da Varig prejudicou o setor. Marta disse que "tudo tem de ser apurado", ao responder sobre a proposta de abertura de uma CPI para investigar o apagão aéreo.

- Esse é um problema sério, desgasta a imagem do Brasil e a paciência dos brasileiros. Espero que seja resolvido. Temos de trabalhar com a realidade. Espero que não fique muito tempo assim - disse a ex-prefeita, que esperou duas horas para embarcar em São Paulo. - Não tinha caos, tinha espera. Estava desagradável de esperar.

Antes mesmo de conversar com Lula, Marta já fazia planos. Enquanto aguardava a audiência, na ante-sala de Lula, conversou com a governadora do Pará, Ana Júlia Carepa (PT).

- Aproveitei e conversei com a companheira Marta Suplicy e ela se dispôs a fazer agenda para o Pará com incentivos para o turismo. Ela está empolgada - disse Ana Júlia.

Ex-prefeita administrará orçamento de R$2 bilhões

Embora a cúpula do PT preferisse ver Marta nas Cidades ou na Educação, ela negou que tenha pedido esses ministérios. Também não concordou com avaliações de que o ministério é pequeno para uma eventual candidata à sucessão de Lula. Segundo ela, Lula disse que a Infraero "por enquanto" não irá para o Turismo, continuando na pasta da Defesa.

- Da minha parte nunca houve demanda e a única coisa que eu disse foi que o presidente sabia do que eu poderia fazer e se achasse que eu poderia ajudá-lo, eu faria - afirmou Marta.

Marta assumirá um ministério sem orçamento para grandes obras ou contato com prefeitos. Ao invés do cobiçado Ministério das Cidades, com orçamento de R$5 bilhões, ela vai administrar R$2 bilhões por ano. O público alvo não são prefeitos, mas parlamentares em busca de liberação de emendas. Seu grande trunfo será faturar politicamente com o PAN.