Título: Caos em aeroportos reforça pressão por CPI
Autor: Jungblut, Cristiane
Fonte: O Globo, 20/03/2007, O País, p. 8

Apagão aéreo também impede votações, e Chinaglia brinca: "Realmente, o fato determinado prejudicou a sessão".

BRASÍLIA. O caos nos aeroportos nos últimos dias reforçou ontem o discurso da oposição em favor da instalação da CPI do Apagão Aéreo. O líder do PFL, Onyx Lorenzoni (RS), disse que o governo não quer a CPI porque tem medo que se investigue possíveis irregularidades em obras realizadas pela Infraero, estatal que administra os aeroportos. Onyx citou relatório do Tribunal de Contas da União (TCU) sobre irregularidades em obras da Infraero.

Apesar do discurso acirrado, a oposição tentou um acordo com a base governista, na tentativa de adiar a votação de hoje, na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara (CCJ), do parecer contra a instalação da CPI do Apagão. O governo, que tem maioria, não aceitou a proposta e manteve a votação. A oposição, então, avisou que vai manter a obstrução nas votações em plenário, até que o Supremo Tribunal Federal (STF) decida se a CPI deve ou não ser instalada.

- O que há de irregularidades na Infraero salta aos olhos, (é certo) que está ou estava instalado um grande esquema com a Infraero. Se cruzarmos o relatório do TCU e os financiamentos de campanha de candidatos, principalmente petistas, talvez possamos fazer ilações. O prejuízo de R$400 milhões na Infraero, na gestão de Carlos Wilson, nos leva a pensar - disse Lorenzoni, sem identificar dados no relatório do TCU que levariam a essa conclusão.

- Negar que estamos no bojo de uma crise é negar as evidências. O que aconteceu hoje nos aeroportos foi catastrófico - disse o líder do PSDB, Antonio Carlos Pannunzio (SP).

Líder do governo diz que base não volta atrás

O líder do governo na Câmara, José Múcio (PTB-PE), disse que os aliados não tinham como voltar atrás.

-- Se não fizéssemos isso, passaríamos a impressão de que não estávamos defendendo uma coisa correta. Vamos manter a votação do recurso amanhã (hoje) na CCJ e, depois, poderemos abrir negociação com a oposição - disse Múcio.

A crise nos aeroportos registrada desde domingo inviabilizou as votações na Câmara ontem, quando a base queria votar, pelo menos, uma das nove medidas provisórias do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Essas MPs passaram a trancar a pauta.

Os atrasos nos vôos impediram que parlamentares chegassem a Brasília. Na Casa, havia 282 deputados, mas, na recontagem das presenças, a sessão das 18h30m caiu por falta de quórum. O presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), não resistiu a uma brincadeira:

- Realmente, o fato determinado (que justifica o pedido da CPI) prejudicou a sessão.

Chinaglia disse que a Câmara vai acatar a decisão do STF sobre a CPI. O pedido de informações do relator do caso no Supremo, ministro Celso de Mello, chegou apenas ontem à Câmara. Chinaglia não disse se responderá rapidamente, como quer a oposição.

Gabeira propõe comissão especial para analisar o tema

O deputado Fernando Gabeira (PV-RJ) propôs uma solução intermediária: a Câmara instalaria uma comissão especial até o STF decidir sobre o assunto. Chinaglia disse que vai propor essa alternativa aos líderes hoje, mas o PFL avisou que não aceita.

- Mais do que investigar os problemas aéreos, o importante é encontrar uma solução - disse Chinaglia.

- Fizemos um gesto de boa vontade, mostramos que havia espaço para diálogo. Não aceitamos essa proposta do Gabeira. O que queremos é CPI. Agora, estamos pintados para a guerra. O governo continua omisso - disse Onyx.

O líder do PFL e um grupo de parlamentares da oposição se reuniram com Chinaglia e propuseram uma trégua. Pela proposta, a oposição desistiria da obstrução das votações, em troca do adiamento da votação do recurso na CCJ.