Título: Battisti tinha documentos falsos
Autor: Pontes, Fernanda e Carvalho, Jaílton de
Fonte: O Globo, 20/03/2007, O Mundo, p. 23

Ex-guerrilheiro italiano é transferido para Brasília e advogados tentam evitar extradição.

APolícia Federal está investigando o uso de documentos falsos e um suposto esquema de apoio financeiro ao ex-ativista de extrema-esquerda italiano Cesare Battisti, preso em Copacabana, no domingo. Ex-militante do Proletários Armados pelo Comunismo (PAC), grupo ligado às Brigadas Vermelhas, Battisti - condenado à prisão perpétua em seu país por crimes terroristas cometidos nos anos 70 - foi transferido ontem do Rio para uma cela da Superintendência da PF em Brasília, onde deverá aguardar o resultado de seu processo de extradição no Supremo Tribunal Federal (STF). Na noite de ontem, a polícia apreendeu documentos falsos no apartamento em que Battisti morava em Copacabana. Entre os documentos, um passaporte francês com o nome de uma outra pessoa. A PF quer saber se ele usava o passaporte para esconder a identidade. Antes de fugir para o Brasil, Battisti viveu longos anos como exilado político na França. Um detalhe, no entanto, deixou os policiais intrigados. No momento da prisão, Battisti se apresentou aos policiais com a verdadeira identidade e não com o passaporte francês.

A polícia também está tentando descobrir como Battisti entrou no Brasil. Até o momento, a PF não encontrou registros de passagem dele por portos ou aeroportos brasileiros. A polícia francesa também não encontrou registro de compra de passagens aéreas em seu nome para o Brasil.

- Se quisermos ser referência no combate ao terrorismo, temos que estar atentos a essas questões - disse o diretor-adjunto da Interpol no Brasil, Glorivan Bernardes de Oliveira.

Gabeira quer visitar italiano na prisão

A polícia está ainda interessada em saber quem faz parte da rede de apoio financeiro a Battisti. Com o italiano, a PF apreendeu 9 mil, dinheiro que ele acabara de receber de uma francesa chamada Luci Genevève. A Polícia Federal chegou até Battisti a partir de informações da polícia francesa, que estava seguindo os passos de Luci, que desembarcou no Rio no domingo. Depois de deixar a bagagem num hotel, ela seguiu para um encontro com Battisti, no calçadão de Copacabana. Luci prestou depoimento e foi liberada, mas será novamente chamada para depor. Outra pista seguida pela polícia do Rio é a de uma ex-namorada de Battisti, identificada como Joyce, de 22 anos, moradora de Belford Roxo, que há alguns meses estaria colaborando com as investigações.

A partir de agora, o governo italiano tem um prazo de 60 dias para formalizar o pedido de extradição ao STF. O processo pode se arrastar por meses ou até anos.

Advogados de Battisti já afirmaram que o ex-militante político iria recorrer contra o processo, alegando ter sido condenado na Itália num julgamento sem sua presença. Outra possibilidade seria o pedido de asilo político. Battisti foi condenado a duas prisões perpétuas por envolvimento em quatro assassinatos - entre eles o do ex-premier e líder democrata-cristão Aldo Moro, em 1978. O advogado Rogério Marcolini não soube informar onde seu cliente vivia no Rio e disse desconhecer que usava documentos falsos.

- O que temos é uma prisão preventiva com base num mandado expedido pela Justiça italiana. Enquanto o governo da Itália não formalizar o pedido de extradição, não posso firmar a defesa.

O deputado Fernando Gabeira (PV-RJ), que lançou um movimento para tentar impedir a extradição de Battisti, vai tentar mobilizar um grupo de deputados para visitar o ex-militante na prisão. Ontem, Gabeira procurou líderes de partidos para fornecer informações sobre o longo processo.

- Antes de qualquer coisa, estou pedindo ao governo que procure compreender a complexidade deste processo. Ele tem negado os crimes e há várias irregularidades no processo. Por isso, comissões de direitos humanos européias defendem que ele tenha outro julgamento - disse Gabeira.

*COLABOROU Alan Gripp (Brasília)