Título: Os impasses
Autor: Franco, Ilimar
Fonte: O Globo, 21/03/2007, O Globo, p. 2

A reforma ministerial anda por caminhos tortuosos e começa também a ficar ao sabor dos ventos. Os transtornos que milhares de brasileiros estão passando nos aeroportos, nos últimos dias, voltaram a deixar na berlinda o ministro da Defesa, Waldir Pires. O presidente Lula disse à coordenação do governo que isso não poderia ter ocorrido, e que é preciso energia para superar a crise.

Para quem foi reeleito com 60% dos votos, o presidente Lula está encontrando uma dificuldade inesperada para substituir o ministro de Desenvolvimento, Indústria e Comércio. Depois de duas recusas - Abílio Diniz (Grupo Pão de Açúcar) e Maurício Botelho (Embraer) -, o presidente está examinando uma lista de dez nomes para fazer novas sondagens. Seu objetivo é conseguir nomear um líder empresarial que seja especialista em comércio exterior.

Mesmo tendo resolvido a questão Marta Suplicy, que aceitou a pasta do Turismo, o presidente está encontrando dificuldades para fechar a presença petista no Ministério. Ele não definiu ainda quem irá para a Secretaria da Pesca, cargo destinado à tendência Articulação de Esquerda, e para o Ministério do Desenvolvimento Agrário, ocupado pela tendência Democracia Socialista. O presidente não quer manter os ministros interinos. Na Pesca, o nome mais forte é o da deputada Iriny Lopes (PT-ES). No Desenvolvimento Agrário, não há luz no fim do túnel. Nenhum nome agrada. O do deputado Walter Pinheiro (PT-BA) foi rechaçado por causa de sua conduta na crise política. O petista queria ir para o PSOL e só não foi porque a plenária de sua base rejeitou a mudança. Lula não o perdoa. O nome de Joaquim Soriano, da executiva do PT, continua em exame, embora ele não seja um nome conhecido do público.

Um dos nós começa a ser desatado hoje, quando o presidente volta a se reunir com a direção do PMDB para definir o ministro da Agricultura. O ex-ministro da Previdência do governo FH, deputado Reinhold Stephanes (PR), é o nome mais forte. Só falta acertar o PMDB para que o presidente Lula se dedique à tarefa seguinte: acomodar o PR no Ministério dos Transportes mesmo depois de criada a Secretaria dos Portos, para a qual já foi convidado o ex-ministro da Integração Nacional Pedro Brito. A reforma ainda não está acabada, mas mesmo aliados admitem que não se pode dizer que o presidente tenha alcançado seus objetivos: melhorar a qualidade da equipe e reduzir o tamanho do PT no Ministério.

Frase do ex-ministro José Dirceu na festa de 61 anos: "Lula foi reeleito e o PT foi o mais votado. Nós estamos só começando. Essa coalizão vai governar por muitos anos".

Custo eleitoral e coincidência

Há muitos anos se debate a coincidência das eleições para prefeito com as para governador e presidente da República. Muitos políticos dizem que o país não pode mais viver com eleições a cada dois anos. Por isso, o senador Leomar Quintanilha (PMDB-TO) está propondo uma emenda constitucional que prorroga o mandato dos atuais prefeitos, que encerram seus mandatos em 2008, até 2010. Se a emenda for aprovada, daqui a três anos haverá eleições para decidir os ocupantes de todos os cargos executivos e legislativos do Brasil.

Para fortalecer sua proposta, Quintanilha fez um levantamento sobre o custo das eleições no país. Desde as eleições de 2000, o governo gastou R$1,7 bilhão para realizar quatro eleições. O pleito municipal de 2000 custou R$247,3 milhões e o de 2004, R$542,7 milhões. O pleito nacional de 2002 custou R$422,8 milhões e o de 2006, R$691,6 milhões. Para as eleições de 2008 ele fez uma projeção média do custo e chegou à bagatela de R$983,8 milhões. Quintanilha diz que é hora de economizar.

Rebu

As direções do PMDB, do PSDB, do PT e do PFL descobriram que há problemas no novo programa do TSE para a prestação de contas dos partidos. Eles reclamaram com o TSE, que ainda não tomou providências. Consta que o setor de informática do tribunal recusa-se a reconhecer que o programa não funciona. Por isso, um desses partidos decidiu que apresentará sua prestação de contas usando o programa anterior.

Pressão

A decisão da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara (CCJ), que arquivou a CPI do Apagão Aéreo, não encerra a polêmica. Quem vai decidir de fato é o Supremo Tribunal Federal (STF). A oposição diz que os governistas, com a decisão da CCJ, pretendem intimidar e constranger o STF. A demonstração de força da base tem como objetivo evitar que o tribunal bata de frente com a decisão do plenário da Câmara.

HOJE o presidente Lula recebe no Palácio do Planalto o senador Fernando Collor (PTB-AL) e a bancada trabalhista. Os assessores do presidente estão desde já preocupados com a repercussão negativa, mas alegam que não se poderia vetar a presença do ex-presidente na audiência.

NOS PRÓXIMOS dias, quem irá ao Palácio do Planalto é o senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA). Ele ocupou a tribuna do Senado ontem para agradecer a visita que o presidente lhe fez no Incor e anunciou que pretende ir ao Planalto fazê-lo pessoalmente.

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