Título: No Senado, queda-de-braço pode ser dura
Autor: Braga, Isabel e Jungblut, Cristiane
Fonte: O Globo, 21/03/2007, O País, p. 3

BRASÍLIA. A maioria que o governo demonstrou ter ontem na Câmara, para barrar na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) a instalação da CPI do Apagão, pode não ser tão segura no Senado. Em conversa reservada com seu colega da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), avisou ontem que teria dificuldades para segurar a criação de uma CPI mista para investigar a crise no setor aéreo, caso o assunto não fosse encerrado definitivamente pelos deputados.

Renan deixou claro para Chinaglia sua preocupação com a queda-de-braço entre governo e oposição por causa da CPI do Apagão, pois esse clima de confronto estaria contaminando o ambiente no Senado. Na reunião de líderes convocada para hoje, por exemplo, o presidente do Senado deverá receber cobranças para garantir a indicação imediata dos representantes da CPI das ONGs, cujo requerimento de criação foi lido em plenário na semana passada.

- A CPI das ONGs terá seu curso normal. Já mandei apurar qual foi o prazo médio para a indicação dos representantes de outras CPIs para que ele seja assegurado agora também - adiantou Renan.

Na tentativa de garantir a suspensão da obstrução feita pela oposição desde a semana passada, por causa do veto presidencial à emenda 3 da lei que cria a Super Receita, Renan preveniu Chinaglia para que comece a analisar qual a melhor data para a convocação de uma sessão do Congresso. A intenção de Renan é montar uma pauta para dar início à apreciação dos mais de 500 vetos presidenciais que estão parados no Legislativo.

Renan recebeu ontem de manhã, no gabinete, cerca de 30 senadores de Norte, Nordeste e Centro-Oeste, que exigem a apreciação do veto que retirou do texto da lei que recriou a Sudam e a Sudene a criação do Fundo de Desenvolvimento Regional, justamente o instrumento de financiamento dessas agências de fomento. Pressionado, o presidente do Senado deu sinais de que não pretende se desgastar junto à Casa para ajudar o governo, ainda mais depois da interferência do Palácio do Planalto em favor da reeleição do deputado Michel Temer (SP) para a presidência do PMDB. Ele já teria encomendado, inclusive, uma cédula única para a votação dos vetos. (Adriana Vasconcelos)