Título: Collor volta ao Planalto. Para encontro com Lula
Autor: Vasconcelos, Adriana
Fonte: O Globo, 21/03/2007, O País, p. 5

Ex-presidente será recebido juntamente com a bancada de senadores do PTB de Jefferson, hoje inimigo do petista.

BRASÍLIA. Quinze anos depois de ser afastado da Presidência da República, Fernando Collor de Mello (PTB), agora senador por Alagoas, volta hoje ao Palácio do Planalto para uma audiência com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ele confirmou ontem presença na reunião com Lula, solicitada pela bancada do PTB no Senado. Será o primeiro encontro frente a frente entre Collor e Lula desde que os dois se enfrentaram em 1989, às vésperas do segundo turno da campanha presidencial, durante debate na TV.

O PTB, que hoje abriga Collor, é presidido pelo deputado cassado Roberto Jefferson, que foi chefe de sua tropa de choque no Congresso, anos depois se aliou ao presidente Lula e agora, desde o escândalo do mensalão, é inimigo do petista.

Os inimigos do passado, que trocaram acusações pesadas, agora são aliados, caso se considere a distribuição dos partidos, no Congresso Nacional, entre governistas e oposição. No ano passado, em meio à campanha pela reeleição, Lula aceitou de bom grado o apoio anunciado pelo ex-presidente, que, em 1989, criara polêmica e indignação entre os petistas e militantes ao divulgar, no seu programa eleitoral gratuito, que o então adversário do PT havia pedido à antiga namorada, Miriam Cordeiro, que fizesse um aborto.

Apoio de Collor ao governo foi dado logo no dia da posse

Collor também não parece ter guardado mágoas dos ataques do PT, partido que liderou as investigações no Congresso Nacional em 1992. Essas investigações resultaram no impeachment de Collor, em dezembro de 1992. No dia em que tomou posse como senador, o ex-presidente adiantou seu apoio ao governo Lula.

- Naquilo que estiver ao meu alcance, ajudarei a dar sustentação ao governo Lula, que tem exercido bem seu papel e merece a colaboração de todos que querem ver o país continuar avançando - disse Collor no seu primeiro dia como senador.

Semana passada, Collor recebeu apoio dos colegas de plenário em sua estréia na tribuna, quando fez seu primeiro discurso, que durou mais de três horas e no qual classificou seu impeachment de farsa.

- Confrangido algumas vezes, contrafeito outras, mas calado sempre, assisti, ouvi, suportei acusações e incriminações dos que, movidos pelo rancor, aceitaram o papel que lhes foi destinado, na grande farsa que lhes coube protagonizar - disse Collor, que, no entanto, não citou os nomes dos seus desafetos mas, deixando claro nas entrelinhas, que se referia ao ex-presidente da Câmara Ibsen Pinheiro e o então relator da CPI de PC Farias (ex-tesoureiro de Collor), o ex-senador Amir Lando.

No fim do discurso, o ex-presidente beijou a mulher, Caroline. Collor tatuou o nome da mulher no pulso esquerdo.

Collor agora parece estar mais à vontade. Ontem mesmo, aprovou na subcomissão de Meio Ambiente um requerimento solicitando que o presidente Lula dê atenção especial à Floresta Amazônica, tendo em vista que 70% dos gás carbônico emitido pelo Brasil seriam produto de queimadas na região.

Simon vai rebater versão de Collor para o impeachment

Mas antes de Collor se encontrar hoje com Lula, o senador Pedro Simon (PMDB-RS) promete fazer um discurso para rebater a versão do ex-presidente sobre o impeachment, já que não estava em plenário, semana passada, quando ele fez seu pronunciamento. Como ex-integrante da CPI que investigou as operações comandadas por PC Farias, ex-tesoureiro da campanha de Collor, Simon pretende contestar as afirmações do ex-presidente de que teria sido vítima de abusos, preconceitos, perseguições políticos e violações do estado de direito.