Título: Na frente das câmeras, como gato e rato
Autor: Franco, Ilimar
Fonte: O Globo, 21/03/2007, O País, p. 8

Delúbio reaparece em festa de Dirceu, que evita tirar fotos ao lado dele.

SÃO PAULO.Os principais líderes e dirigentes do PT, além de ministros e parlamentares petistas, ignoraram a festa de aniversário de 61 anos do ex-ministro e deputado cassado José Dirceu, realizada num bar de São Paulo, no bairro de Pinheiros. Entre os mais de mil amigos presentes, porém, estava o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares, que saiu do partido no auge do escândalo do mensalão sob a acusação de ser um dos responsáveis pelo esquema do valerioduto. Desde que chegou à festa, às 21h15m, Dirceu passou duas horas cumprimentando os convidados e fugindo de Delúbio, para evitar que fossem fotografados juntos.

Resignado, Delúbio aguardou até as 23h46m para cumprimentar o aniversariante. Foi uma longa espera. Mais cedo, eles chegaram a ficar a dois metros um do outro, mas Dirceu virou as costas e foi para outro lado, enquanto a mulher de Delúbio, Monica Valente, tentava puxá-lo.

- Eu já volto - disse Dirceu, desvencilhando-se.

Não voltou mais. Apenas no final da festa, cercado por amigos, que fizeram uma barreira humana para evitar que a cena fosse registrada por fotógrafos, é que eles abraçaram-se. Delúbio afastou-se em seguida, rindo e simulando um abraço com as próprias mãos, mas evitou falar sobre política ou do processo judicial a que responde. Depois do mensalão, ele chegou a dizer que no futuro o escândalo ia virar "piada de salão".

- Do jeito que está, está bom. Só vou falar depois de terminar o processo. Quem fazia piquete era eu, e não vocês - disse, pedindo para que lhe abrissem passagem.

Animado com a festa, Dirceu subiu ao palco e anunciou que começará uma campanha por sua anistia política após a Semana Santa.

- Depois da Semana Santa vamos começar, em todo o Brasil, a campanha pela minha anistia - disse.

Sempre escoltado pelo amigo Roberto Marques, Dirceu desfilou pelo salão recebendo abraços e tirando fotos ao lado de correligionários e admiradores. Entre os que foram abraçá-lo, o empresário Ivo Rosset; o consultor Antoninho Trevisan; o presidente do PT paulista, Paulo Frateschi; o líder sem-terra José Rainha; Luiz Favre, marido da futura ministra Marta Suplicy; o tesoureiro da campanha de Lula, José de Filippi Junior; o secretário de Finanças do PT, Paulo Ferreira; o secretário de Mobilização do PT Martvs das Chagas; o ex-secretário de Imprensa do presidente Lula Ricardo Kotsho; o advogado Antonio Carlos de Almeida Castro; e os artistas Antonio Abujamra, Sérgio Mamberti, Antonio Grassi, Odilon Wagner, Percival Maricatto e José de Abreu.

- Em março de 1967, na Faculdade de Direito da PUC, depois de um papinho, o Zé me deu um livrinho, "O 18 do Brumário de Luís Bonaparte", de Karl Marx. Aquele livrinho mudou a minha vida - disse José de Abreu.

Poucos foram os políticos que compareceram. Apenas o senador João Ribeiro (PR-TO), os deputados Carlos Wilson (PT-PE), Paes Landim (PTB-PI), Edson Santos (PT-RJ), Vander Loubet (PT-MS), e os ex-deputados Luiz Eduardo Greenhalgh e Sigmaringa Seixas.

Pela primeira vez Dirceu apareceu num evento público ao lado da nova mulher, Ivanize Maria da Costa Santos, funcionária do Cerimonial do Palácio do Planalto. Ela estava ao lado dos parentes de Dirceu, entre os quais o filho Zeca Dirceu, prefeito de Cruzeiro do Oeste (PR), quando foi cantado o parabéns em meio a uma chuva de papel picado laminado. Pouco antes, o ator Antonio Grassi o enaltecera em seu discurso:

- Salve José Dirceu. Trago um abraço da minha terra: Minas Gerais. E da terra que me hospeda: Rio de Janeiro. Bola prá frente. O Brasil confia e espera muito de você.