Título: Focos de incêndio
Autor: Ilimar, Franco
Fonte: O Globo, 22/03/2007, O Globo, p. 2

A demora do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em fechar a reforma ministerial e a insatisfação com suas escolhas estão fomentando disputas na base do governo. O exemplo mais notório do desconforto é o repentino interesse do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), em votar os vetos presidenciais. O mais rocambolesco é a disputa no PDT em torno da CPI do Apagão Aéreo.

Os líderes do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), e no Congresso, Roseana Sarney (PMDB-MA), foram pegos de surpresa pelo presidente do Senado, na terça-feira, quando foram informados de que os vetos iriam ser submetidos à votação. Eles tentaram reagir, mas Renan lhes disse que se tratava de uma prerrogativa do Congresso. No mesmo dia, 37 senadores das regiões Norte e Nordeste foram até o presidente do Senado para pedir que sejam votados os vetos às leis que recriaram a Sudene e a Sudam. Estava criado o álibi para que Renan, insatisfeito com Lula por causa da disputa pelo comando do PMDB, pudesse fustigar o governo, começando por submeter ao voto o veto à emenda três da lei que criou a Super Receita.

Enquanto o nome do ministro do PDT não é anunciado, os trabalhistas brigam em céu aberto. O líder do PDT, Miro Teixeira (RJ), votou a favor da criação da CPI do Apagão Aéreo, levando para essa posição a bancada do PDT, tanto no plenário da Câmara quanto na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). Nome forte para ocupar o Ministério da Previdência, o presidente do PDT, Carlos Lupi, sentindo-se ameaçado, tratou de reunir a executiva para decidir que os deputados trabalhistas votariam contra o recurso da oposição contra a decisão da CCJ que arquivou a CPI. Toda essa trama ocorreu tendo como pano de fundo o debate sobre quem controla a bancada trabalhista na Câmara. Carlos Lupi virou o jogo e ontem estava levando a melhor na queda-de-braço com Miro Teixeira. Esse embate só vai arrefecer quando o presidente Lula escolher o ministro do PDT.

O PMDB da Câmara também está ansioso com a indefinição no Ministério da Agricultura. O líder Henrique Eduardo Alves (RN) dizia ontem que a demora submetia a uma exposição desagradável aos indicados, sobretudo ao deputado Reinhold Stephanes (PR), que está sendo contestado pelos ruralistas.

O processo tortuoso pelo qual o presidente Lula faz a reforma não representa, neste momento, uma ameaça à maioria parlamentar. Mas os aliados dizem que o presidente está assoprando a brasa do ressentimento.