Título: Após um ano e dez meses, PF indicia Jefferson por formação de quadrilha
Autor: Gripp, Alan
Fonte: O Globo, 22/03/2007, O País, p. 4
Presidente do PTB é acusado de comandar desvio de recurso dos Correios.
BRASÍLIA. Depois de um ano e dez meses, a Polícia Federal indiciou, ontem, por formação de quadrilha, o presidente nacional do PTB, ex-deputado Roberto Jefferson. Ele é acusado de comandar esquema de desvio de recursos dos Correios para o partido que comanda, no episódio que deu origem ao escândalo do mensalão. A PF diz que as investigações concluíram que o ex-deputado é responsável por indicar pessoas-chaves no esquema para ocupar cargos de direção no órgão.
Como antes, Jefferson caiu atirando: acusou a PF de atuar como "braço político" do PT e levantou suspeitas de que o mensalão continua.
O ex-deputado foi indiciado durante depoimento ontem na sede da PF, em Brasília, no último capítulo da investigação. Amanhã, o inquérito dos Correios deverá ser enviado para a Justiça, que decide se abre ou não processo criminal contra os réus. Além de Jefferson, oito pessoas foram indiciadas, entre elas o ex-chefe de contratações da estatal, Maurício Marinho, flagrado em um vídeo recebendo R$3 mil de propina - estopim do escândalo do mensalão.
A PF informou que as acusações contra Jefferson estão baseadas, principalmente, em testemunhos que comprovariam o esquema. Pelo menos três empresários teriam confirmado em depoimento que recursos desviados da estatal foram empregados no pagamento de material de campanha. Essas empresas teriam sido beneficiadas pelos Correios ganhando contratos, e, em troca, teriam fornecido propaganda política.
Os investigadores relacionam no inquérito depoimentos de Jefferson, tanto em seu livro "Nervos de aço" quanto em seu interrogatório da CPI dos Correios. Outra evidência é o depoimento de Maurício Marinho, que depois de flagrado recebendo propina, afirmou à PF que os recursos teriam como destino o PTB.
Foi o próprio Jefferson quem anunciou seu indiciamento aos jornalistas ao sair da PF. Ele disse que o indiciamento é subjetivo e atacou uma lista de desafetos, começando pelo procurador do caso, Bruno Acioli:
- Meu partido não fez nenhum negócio nos Correios, mas eu sei que é pressão do boboca do procurador Bruno Acioli, que invadiu a casa da minha filha enquanto eu prestava depoimento no Conselho de Ética. É um garoto bobo do PT.
O ex-deputado acusou o PT de aparelhar a PF e disse que "há indícios fortíssimos" de que o PR (antigo PL) continua recebendo mensalão do governo.
- Não posso dizer (que o mensalão continua). Estou fora, mas há indícios fortíssimos de que o partido do Valdemar (Costa Neto), continua fazendo tudo isso outra vez - disse.